Las Vegas, Pyongyang e a revolta dos leitores

A capa da Time desta semana

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Olhando assim para nós, seres humanos, não parece, mas somos parte da natureza. Nossos desejos, nossas ideias, nossos apetites foram todos moldados por milênios e milênios de evolução. Nossos ancestrais sobreviveram a um mundo hostil e passaram para frente genes que, na época, revelaram-se úteis. Por exemplo: genes que determinam o apreço por comidas altamente energéticas, que impediram que eles morressem de fome. Ou genes que proporcionam alguma agressividade, alguma ousadia, na relação com o sexo oposto, que impediram que eles morressem virgens, sem deixar descendentes. Ou genes que induzem à disposição para correr riscos, que impediram que nossos ancestrais passassem a vida à sombra de um coqueiro, esperando a vontade de fazer algo construtivo passar.

Tem um jeito fácil fácil de ganhar dinheiro: apelar diretamente a esses desejos atávicos, difíceis de resistir. É essa a especialidade de Las Vegas.

Las Vegas é a capital da trash food: queijos derretidos, qualquer coisa empanada, gordura escorrendo, açúcar suficiente para sustentar gerações de dentistas. Vi um restaurante ítalo-mexicano que vendia pizza de doritos coberto com molho e queijo derretido. É impressionante o tamanho de algumas pessoas que andam por lá. Vegas é também a capital do desejo sexual. Lá os carros rebocam outdoors móveis iluminados com anúncios de prostitutas. Não tem como não notá-los, eles passam à sua frente – não tem como não ser tentado por eles. Naquelas caixinhas de jornais, tão americanas, em vez de notícias, há catálogos de garotas de programa.

Há caça-níqueis em todo canto, até nas áreas de espera do aeroporto. O caminho da rua ao quarto do hotel é propositalmente longo, para forçar você a passar por muitos caça-níqueis e, quem sabe, torrar algum dinheiro. Não há janelas, para enganar o organismo e não deixá-lo sentir o tempo passar. Nos cassinos, as garçonetes usam maiôs minúsculos, cavados nas virilhas e com decotes imensos. É que a visão do corpo feminino provoca descargas de testosterona nos homens. E, com níveis mais altos de testosterona, os apostadores ficam mais dispostos a correr riscos. A gastar mais dinheiro.

Pura biologia. Puro cálculo. Pura manipulação. As pessoas naqueles cassinos imensos são como ratinhos de laboratório, respondendo a impulsos, obedecendo pavlovianamente ao que se espera delas.

Agora saia do roteiro traçado para os turistas e você vai ver outra Vegas. Saia das ruas iluminadas e entre num daqueles becos escuros, de mendigos e prostitutas, de traficantes e loucos, de fracassados e bêbados. Em vez de pegar o “super-trem suspenso”, vá andar à pé. E você vai ver os bastidores de Vegas – o lado de trás do cenário hollywoodiano. E você vai ver uma cidade sem empreendedorismo, onde apenas meia dúzia de megacorporações decidem tudo, e o resto das pessoas obedece. Uma cidade sem alma, sem realização individual, sem dimensão humana.

Li outro dia o bom gibi Pyongyang, do francês Guy Delisle, que visitou a capital da Coréia do Norte e, a contragosto dos “guias-guardas” colocados à disposição dele pelo governo, também ousou sair do roteiro traçado e andar nas ruas da cidade. Fiquei com a sensação de que tem algo parecido entre Vegas e Pyongyang: a mesma falsidade, o mesmo vazio, a mesma grandiosidade oca.

Algumas pessoas se irritaram com meu último post. O raciocínio delas foi o seguinte: eu critiquei Vegas e o super-bilionário Sheldon Adelson. Vegas é nos Estados Unidos e Adelson é um empresário, logo eu só posso ser comunista. E dá-lhe comentários dizendo que eu sou um “ecotrouxa” apreciador de Fidel e de Havana.

Esses comentários não podiam ter passado mais longe do alvo. Não tenho nada contra o capitalismo, nem contra os Estados Unidos, de onde vos escrevo (neste exato momento, estou no Aeroporto Internacional George Bush, em Houston, Texas). Houve até quem declarasse que Adelson um “herói”, um empreendedor que ajuda a construir o mundo. Adelson não é nada disso. Ele é odiado por todos os outros donos de cassino, que no geral são pessoas divertidas e amigáveis – um dos “donos” de Vegas, Steve Wynn, chama-o pelas costas de Mr. Magoo. Paranóico, desagradável, amante de riscos acima de qualquer outra coisa, Adelson se comporta bastante como seus clientes, os apostadores. Ele não trabalha pelo prazer de construir coisas, mas pelo “rush”, pela adrenalina de arriscar. Um impulso humano, sem dúvida. Compreensível. Mas não heróico.

Verdade que a grana de Adelson gerou empregos, aqueceu economias, enriqueceu gente, e isso é bom. Mas, se o que estamos vendo no mundo afora é uma bolha especulativa explodindo, Adelson era um daqueles de canudinho na mão, soprando. O que ele produziu foi ar.

Não me entendam mal. Não estou fazendo um julgamento moral aqui. Adelson tem todo direito de soprar o canudinho. Mas o simplismo dos leitores que me escrevem dividindo o mundo entre bem e mal, esquerda e direita, heróis e vilões, e que afirmam bobagens do tipo “ele ganhou dinheiro, portanto ele é bom” é parte do nosso problema. (Só para lembrar: traficantes de heroína, de escravas sexuais e de órgãos humanos também ganham dinheiro.) A questão não é se ele é bom ou ruim – é se o tipo de mundo que ele propõem é sustentável ou se ameaça nossa sobrevivência como espécie.

Precisamos deixar para trás essas bobagens. Precisamos aprender a distinguir entre as empresas que estão efetivamente resolvendo problemas humanos e inovando e aqueles que, como Adelson, fazem a vida explorando as fraquezas dos outros.

A velha divisão esquerda e direita não dá conta de separar uma coisa da outra. Ela é simplista: se você gosta de San Francisco tem que gostar de Las Vegas, se gosta de Steve Jobs tem que gostar de Sheldon Adelson. Se não, é comunista. Isso é uma bobagem do tamanho da pirâmide egípcia de Vegas – mas uma bobagem tão encravada nas nossas mentes que vira e mexe ela reaparece aqui na caixa de comentários. Repito: este blog não existe para essa discussãozinha boboca. Se você quer muito continuar debatendo a mesma coisa de sempre, convido-o a fazê-lo em um dos quatrilhões de blogs dedicados a isso internet afora.

Para mim, Las Vegas e Pyongyang são o mesmo lugar. Fidel e Pinochet são a mesma pessoa. Esquerda e direita são dois braços do mesmo burocrata chato que quer mandar em mim e esvaziar minha vida de sentido e graça – seja ele um gerente de corporação ou um oficial do politburo.

39 comentários
  1. Márcio disse:

    Boa colocação Denis, aquela discussão do post passado estava num nível péssimo. Esses raciocínios maniqueístas não nos levam a nada, a não ser a um futuro dominado pelo medo e ignorância. Bem interessante essa desconstrução que fez de um “discurso vitorioso” como a que se propõe cidades como Vegas – tais debates encaixam-se muito bem em diversos contextos da realidade Brasileira também: SP, Brasília, RJ etc. O que eu não concordo muito contigo, na verdade não apenas nesse post, é a percepção que tem sobre os conceitos de “Esquerda” e “Direita” – nesse ponto acho que você acaba endossando a visão daquela turma da “caça às bruxas”sobre o tema. Acho que ainda hoje são categorias válidas para se pensar a política e sociedade E pensadores como o importantíssimo N. Bobbio tem ótimos argumentos para tal. Não vou me estender aqui sobre isso, a quem interessar, leia um post do coletivo do qual faço parte, em que trato da aproximação dos Verdes e dos Piratas como o possível surgimento de uma nova concepção de Esquerda (http://ciscobh.blogspot.com/2009/07/uma-nova-esquerda.html). Agora, porque a minha insistência com os tais conceitos? Pelo fato de que, propor uma total descaracterização do vocabulário político é sinônimo de um empobrecimento e um mascaramento do conflito de idéias e valores; é uma forma mascarada de estabelecer a hegemonia de uma percepação apenas, reduzindo a política a um pragmatismo baseado no que está aí: ou seja, depederíamos apenas de decisões de multinacionais e uma regulação mínima do Estado. Seria endossar a famosa tese do fim da História. E, como vemos pela realidade de tais cidades, sabemos que isso nuncavai acontecer. Desculpem pelo tamanho do comentário.

  2. Roberto Aldyn Reus disse:

    Entre “aqueles que … fazem a vida explorando as fraquezas dos outros” não estaria a própria editora Abril? O que é a revista Veja (pelo menos em sua fase atual – não falo da Veja histórica da época da ditadura) senão uma vasta operação de exploração das fraquezas de seus leitores? Fraqueza principal: o leitorado de Veja é uma enorme massa de classe média cada vez mais apavorada com as possibilidades de ascensão social dos pobres, ou seja, com o fato de que progressivamente deixa de haver diferenças entre sua própria posição social e a daqueles que sempre estiveram por baixo. Aí está a raiz da devoção de alguns leitores (esses que criticaram seu último post) a uma figura grotesca como Reinaldo Azevedo. Medo. Pavor.

  3. Pedro Paulo disse:

    ” Fidel e Pinoche são a mesma pessoa”. Nada comento só lamento…

  4. jorji disse:

    No inicio , voce definiu tudo, sexo, evolução, os genes, “a verdade” é questão biológica, sexo é tudo, a única verdade absoluta, o resto é consequência, Las Vega, Pinochet, comercio de órgãos, traficantes, tiranias,genocídios,estupros, assassinatos,esquerda ou direita, etc, tudo no fundo é sexo, aliás eu detesto os perfumes artificiais, o cheiro que gosto mesmo é a da genitália feminina………….

  5. Pedro disse:

    Dênis, o texto ficou show. Inclusive, gostaria de me desculpar por ter perdido a paciência com a figurinha do outro post. Gostaria muito de assitir a uma palestra sua quando vier a Brasília.

    Roberto Reus, eu também não gosto da Veja (não suporto a forma como alguns colunistas e repórteres são parciais em relação ao tema política partidária). Todavia, acho que cada um deve ter o direito de escolher o que quer ler. Democracia não é isso?

    Eu não compro Veja, mas acesso este blog todo dia. É de graça e a qualidade é excelente.

    Abracos.

  6. andré disse:

    Teu texto anterior já estava ótimo, autoexplicativo (é assim, de acordo com a reforma?), e neste vc conseguiu ser extremamente didático, o que, considerando o nível dos comentários anteriores, ainda não é garantia de compreensão…
    Independentemente, o texto tá muito bom!

  7. Felipe Maddu disse:

    Acho política partidária, baseada no confronto esquerda X direita, algo ultrapassado. Isso não representa um apoio automático à visão do blogueiro. Eu queria complementar, um pouco na linha de raciocínio do Márcio.
    Existe um pensamento universal conservador e outro liberal(ou libertário), mas que não têm nada a ver com partidos, figuras políticas e poder. Pelo menos nos EUA, esse grupos opostos são assim denominados-me corrijam se estiver errado. E um conservador pode muito bem trabalhar para o partido democrata, como pro rebublicano.
    Um conservador chama o Denis de eco-chato. Um liberal percebe a importância dos biomas, da beleza da natureza, fica triste quando vê nossas matas sendo devastadas, um animal sendo oprimido por nós, percebe que nós também somos natureza.
    Um conservador faz a crítica pela crítica, sem argumentos e com julgamentos morais. Um liberal não concorda com o Estado israelense, o inchaço das colônias judaicas na Cisjordânia e o muro criador de um novo apartheid. Mas ao mesmo tempo, essa mesma pessoa têm muitos amigos judeus, também não concorda com o fanatismo islâmico, as leis machistas e feudais da Sharia. Esse mesmo liberal desacredita das igrejas cristãs, igualmente ultrapassadas em sua visão global de Mundo e sociedade.
    Outro exemplo. Um conservador acredita no estado policial. Acredita que os bandidos nascem do esgoto e direitos humanos só serve pra proteger vagabundo. Essa mesma pessoa critica a ditadura da Coreia e de Cuba, contudo apoia o golpe de Honduras e chama de revolução de 64 o golpe que iniciou a ditadura militar. Esta, talvez a única que teve golpe dentro do golpe. O liberal não acredita na farsa da defesa da família-TFP??-, do país contra os “comunistas”. Aliás o governo de Goulart é uma incógnita e com certeza ele não iria implantar o socialismo e sim fazer reformas de base essenciais para o País-e que hoje fazem falta. Um liberal sempre desconfia de todos governos, inclusive Obama, Lula, Chávez e outros “esquerdistas”.

  8. Leo disse:

    Fiquei até com medo de comentar no texto anterior, tamanha a fúria nos comentários.

  9. Oswaldo disse:

    …hum, sei, a mesma coisa? então vá para Pyongyang fazer críticas ao local…se te deixarem voltar vivo, vá para Vegas e faça o mesmo…talvez note a diferença aparentemente mínima….mas que faz toda a difrença no final das contas…

  10. denis rb disse:

    Verdade, Oswaldo, faz toda a diferença sim. Você tem razão. Perdoe meus arroubos estilísticos, às vezes me empolgo. Mas vcs entenderam o que quis dizer.

    E verdade, Márcio, claro que existe sim esquerda e direita, e que algo nessa discussão continua válido. Desde que a gente não use essa dicotomia para reduzir tudo a ela, para criar duas caixinhas estanques e irreconciliáveis. Mais uma vez, admito: exagero um pouquinho para “fazer meu ponto”.

  11. Felipe Maddu disse:

    Certo Oswaldo, isso se deixarem entrar no País. O que ocorre muitas vezes, inclusive com artistas renomados e chefes de Estado ou ministros de outros países-aconteceu com um indiano recentemente. É claro que na coreia não dá nem pra comparar, lá é outro mundo.

  12. Márcio disse:

    Hei Felipe Maddu, boa colocação, mas só queria fazer uma observação quanto à sua definição de “conservador”, me parece que há um certo julgamento de valor – não que isso seja problemático, na verdade só queria usar isso de pretexto pra tentar ver as noções de Direita X Esquerda numa perspectiva mais técnica e mostrar as suas validades analíticas. Podemos “classificar” as idéias políticas em duas chaves: Igualdade X Desigualdade e Liberdade X Autoridade. Daí você pode ter uma esquerda autoritária, uma direita liberal e vice versa! Com diferentes graus de intensidade pra ambos os lados. O termo Conservador é um tanto vago se o virmos por esse aspecto. Mas funciona, claro! Agora, quando o Pedro Paulo diz que Pinochet e Fidel (tenho asco dos dois!) são a mesma coisa, aí caímos numa banalização que só atrapalha o bom entendimento. Eles não são a mesma coisa em termos de idéias políticas, mas são semelhantes no quesito Autoritarismo, mas mesmo assim com diferentes nuances. Usos maniqueístas dos conceitos é que estragam a leitura da realidade, só não podemos achar que isso é culpa dos conceitos em si. O Oswaldo exemplificou bem a coisa, numa leitura rápida diríamos que as duas cidades são permeadas por uma lógica de Direitta capitalista e pronto, mas na verdade elas possuem relações muito diferentes no que toca ao dilema Liberdade X Igualdade.

  13. Renato disse:

    Oi Denis,

    Estive em Vegas no começo do ano e a cidade me surpreendeu pela bizarrice. Aquele lugar é uma especie de refúgio para o ser humano careta poder fazer tudo o que deseja e não se permite em outros lugares, ou seja, beber a vontade, comer a vontade e transar a vontade.
    Me assusta as pessoas levarem a sério as “atrações” de Vegas, acharem que realmente aquela “Paris”, “Veneza” e “Roma” devem ser respeitadas e reverenciadas como boa arquitetura.
    Vegas é interessante pelo exotismo do povo que a frequenta e que vai assistir a covers de Frank Sinatra e ao circo de Soleil e se emociona com isso, é o mesmo povo que entende que aquilo tem algum valor estético em sí e que não conseguem enxergar a produção desencadeada justamente para suscitar emoções vazias. É interessante porque as pessoas que frequentam Vegas são as pessoas mais desinteressantes do planeta e que tem naquele espaço seus momentos fugazes de liberdade.
    Não consigo me esquecer de uma cena que presenciei e que dá o tom da hipocrisia de um lugar com este: ao atravessar um daqueles viadutos da Strip, me vi numa cena dificil de acreditar. Um rapaz negro, possivelmente imigrante, vendia agua em garrafinhas num pequeno isopor, bem ao estilo de nossos vendedores ambulantes. Pois bem, ao seu lado, dois guardas o recriminavam e pediam os seus documentos,diziam ainda para ele que ali naquela terra existia lei e que aquilo que ele estava fazendo era contra a lei e que a mercadoria seria confiscada. Enquanto isso abaixo do viaduto, pessoas se embriagavam e mulheres eram oferecidas como mercadoria.Definitivamente é uma cidade muito maluca.

  14. Renata disse:

    Oi Denis, como você pode ser comunista admirador de Fidel se você escreve para “Veja”??? Eu adoro a sua coluna e acho incrível que ela seja publicada pelo site dessa revista que explora com tanta frenqüencia explora raciocínios simplistas e o medo do diferente. Na mídia brasileira é em Veja que a velha divisão esquerda-direita está mais viva. Mas tenho que reconhecer que é uma ótima iniciativa de Veja dar voz à outras visões de mundo através de colunas como sua.

  15. Brasileiro disse:

    Good job. You´re right, boy.

  16. Guilherme Frederico Lamb disse:

    Não é a mesma coisa, há uma grande diferença, na coreia do norte não se pode sair ou escolher. Não a liberdade de ir e vir como nos EUA. Não há liberdade de escolha.

    Gostaria de ver você postando isso do aeroporto de pyongyang.

  17. Fabio Storino disse:

    Bravo, Denis!

  18. Felipe Maddu disse:

    A Renata é uma fanfarrona ou não leu a matéria heehe

  19. denis rb disse:

    Ficamos sem comentários por algumas horas, mas já está tudo certo. Desculpem o incômodo.

  20. PAULO ROBERTO disse:

    Denis,
    Na década de sessenta ouvi de um professor (Bodin) que a discussão ideológica que permeava qualquer questão, até mesmo sobre a melhor receita para o recheio de abobrinha, um dia se esgotaria. Bem, no mundo civilizado já se esgotou, esquerda e direita são assunto de trânsito. Ele previu ainda mais, disse que, a esta discussão outra se sucederia, muito mais cruscial e que geraria guerras muito mais cruentas, seria uma discussão étnico-religiosa. Ele tinha grande descortino, não? Mas ele não parou por aí, disse ainda que, esta outra discussão também, um dia no futuro, se exauríria e, a ela, sucederia a polêmica final – a polêmica ética – entre os que são do bem e os que são do mal. Nesta minha existência já vi cumprir-se a primeira parte da profecia. Não tenho dúvida que a seguinte também se cumprirá. Foi ele a primeira pessoa a me falar de algo que, na década de sessenta nem nome tinha, o mercado de créditos de carbono. No clima da última das discussões – a ética – a comparação Vegas X Pyongyang faz todo sentido. Seu artigo é uma epifania.

  21. #42 disse:

    O debate sobre esquerda e direita em que a area de comentários se transforma me tira a vontade de comentar algo!

  22. Rogério de Oliveira Soares disse:

    Caríssimo e admirado Denis Russo, depois de tantas deliberações é isso oq acho de suas observações sobre Las Veiigas!:

  23. Winston disse:

    “Some guys just can’t handle Vegas”.

  24. Winston disse:

    “What happens in Vegas stays in Vegas”. Next time you go there, don’t bet your own underwear.

  25. Daniela disse:

    Pyongyang e Las Vegas nao sao e nunca serao a mesma coisa. Me surpreende voce, um jornalista, dizer isso. Voce pode expressar as suas criticas a Las Vegas na propria cidade; se quiser pode sair as ruas e dizer a todas as pessoas nas tudo o que voce acha errado na cidade. O unico risco e que ninguem queira lhe ouvir. Ja em Pyongyang, voce seria preso e provavelmente fuzilado.
    A grande diferenca e que Las Vegas esta situada numa democracia e Pyongyang numa ditadura. Esta diferenca e muito mais importante do que todas as semelhancas que voce lista no seu artigo.

  26. Tomé disse:

    Parabéns pela lucidez nas idéias. Brilhante.

  27. MARLENE DA SILVA GOMES disse:

    Denis,
    Seu texto está ótimo! Você tocou na base. Hoje, existe uma tentativa de generalizar tudo, de rotular tudo: quem critica Vegas tem de ser esquerdista, quem critica Phiongyang tem de ser direitista. Não é possível que um ecologista aprecie um empresário ou que um empresário se preocupe com o meio ambiente. Não é possível que alguém defenda, ao mesmo tempo, o capital e o trabalho. Acho que muitos dos que se dizem capitalistas ficariam assustados se lessem os volumes I e II de “A Riqueza das Nações”, de Adam Smith, um dos fundadores do capitalismo. Smith defendia o lucro, sim; o liberalismo, sim. Mas defendia também o salário justo para o trabalhador e o preço justo para o consumidor. Era contra o latifundio, o monopólio, os subsídios, o consumismo e o desperdício. Achava justo que os trabalhadores se organizassem em busca de salários melhores. Hoje, ora vejam só, o “cara” seria taxado de comunista.

  28. Rogério de Oliveira Soares disse:

    No fundo, no fundo, do papel higiênico até o ar que respiram todos os anticapitalistas são acima de tudo uns hipócritas. Por que ñ abrem mão de sua comida industrializada, notebooks e cultura, para viver na selva?

    Abraço aos leitores

  29. Ricardo disse:

    Hum… “admito: exagero um pouquinho para fazer meu ponto”. Acho que isso e o que define um bom escritor: ser capaz de “fazer o seu ponto” sem exagerar ou distorcer a realidade. No proximo texto, escolha um argumento que voce possa sustentar e convencer os seus leitores sem exagerar, distorcer ou ignorar parte da realidade. Ou apenas admita que voce nao gosta de Las Vegas. Todo mundo tem o direito de nao gostar de uma cidade. Mas compara-la a Pyongyang…

  30. Felipe Maddu disse:

    Há 4 horas saiu uma notícia na G1, Cigarro causou 1 bilhão de mortes no século 20. Muito mais do que qualquer fascínora de direita ou esquerda. Vale a pena então lucrar em cima de qualquer coisa, da morte, vício dos outros? Tudo é mercadoria? Algumas pessoas defensoras ferrenhas do capitalismo não levam isso em questão. Não levam em questão, por exemplo, que em Vegas a economia é movimentada através de um incentivo de outro vício tão nocivo, quanto o vício do cigarro. Do jogo.
    Temos 6 bilhões de pessoas. Se todos consumirem como a classe média paulista precisaria de mais recursos naturais do que a Terra pode nos fornecer. Com a China crescendo o que cresce, poluindo, consumindo energia e sendo parceira dos ocidentais e imitndo nosso desenvolvimento insustentável-engraçado como ninguém fala da China, apenas da Coreia e Cuba. Bem hipócrita né, pois é uma ditadura, mas como é aberta economicamente beleza né.-não há Terra que aguente. Individualmente o capitalismo oferece um “conforto” ilusório, mas globalmente um caos eminente, um suícidio. É muito importante um blog como esse pra gente discutir sustentabilidade e promover soluções conjuntas. Eu só tenho o problema na minha mão, ainda não tenho a solução. Pelo menos sei da existência do problema. O pior é dar às costas pra essa questão somente em nome da defesa do capitalismo por si só. Estamos no mesmo barco, na cidade, na fazenda ou na selva.

  31. #42 disse:

    Fugindo um pouco do assunto do post:
    Algum dia nós colonizaremos marte, a lua, outros planetas e lugares no espaço que tenham coisas que queremos… disso eu tenho certeza… mas eu digo uma coisa, se hoje com o medo que temos de que falte água, energia e recursos em geral nós cuidamos do nosso planeta do mesmo jeito que tratamos a nossa privada, imagine quando nós não tivermos mais essa limitação? Pobre universo…
    Agora voltando ao post:
    Eu tenho certeza de que o Denis conhece as diferenças de Pyongyang, uma democracia e uma ditadura… mas não é disso que o texto trata! O texto trata de algo que se vermos bem tão triste quanto, afinal um lugar no meio do mar de democracia e capitalismo que é os EUA pode ser comparado com Pyongyang no meio do mar da ditadura insana e comunista que é a Coréia do Norte!

  32. paçoca disse:

    “Fiquei com a sensação de que tem algo parecido entre Vegas e Pyongyang: a mesma falsidade, o mesmo vazio, a mesma grandiosidade oca.”
    Algo parecido não é a mesma coisa. Vamos aprender a ler pessoal!!!! Prestar mais atenção antes de falar besteira.
    Parabéns Denis, o buraco tá bem mais embaixo e as pessoas não percebem.

  33. denis rb disse:

    Obrigado, paçoca, pela defesa
    Mas acho que a crítica do Ricardo veio porque, mais adiante, eu escrevi “para mim, Vegas e Pyongyang são a mesma cidade”. Foi esse meu “exagero” – um exagero explicadinho, calculado, a serviço da ênfase e, por que não?, da polêmica.

  34. Luciene disse:

    UAU! Textaço! Começo a ficar apaixonada por este blog, Denis. Será que serei correspondida? (kkkk) Thanks por não fugir da discussão, por respeitar as opiniões, por não se intimidar e pela lucidez.

  35. Giorgio Gislon disse:

    Denis,

    estive trabalhando em Las Vegas no verão 2007-2008, as impressões que tive na época são as mesmas que você teve. A emulação, incessante, de alegria e sexo expõe uma sociedade em que ninguém sorri e não há erotismo.

  36. Fred disse:

    Cara, você disse tudo. A “sustentabilidade” (ou modo de viver “inteligentemente e responsavelmente” – o que se espera do único ser racional do planeta) tem uma grande questão a ser resolvida no campo moral. Ganhar dinheiro não é errado. Mas a custo de que e em detrimento de quem? Quanto vale um corpo? Quanto vale um sorriso? Quanto vale uma alma? Responder de fato essas perguntas é começar a pensar em sustentabilidade. É isso aí.

  37. thalles disse:

    acabei de descobrir este blog e ja adiconei-o aos meus favoritos.

    enfim, concordo com o que você falou. pela própria posição geográfica de las vegas percebe-se que a cidade não produz nada propriamente dito. até as agencias de casamento de las vegas que tanto passam nos filmes me dá uma ideia de um lugar futil, consumista e insustentavel a medio e longo prazo onde os atores deste ” filme” são verdadeiros palhaços, alegres com seus corpos malhados e bonitos; na intimidade, porém, rola só as drogas pesadas, o sexo desprotegido e dsts, suicidios e gastos desenfreados com o jogo.

    um cenario trágico, como diria seu omar, de todo mundo odeio o cris 😀

  38. thalles disse:

    tenho vontade de conhecer las vegas, mas acredito que o clima que encontrarei la nao difere muito do que estou acostumado a viver no interior do rio grande do norte: ar seco, temperaturas maiores de 30 C…

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