Aqui não é Paris

Talvez você conheça a sensação. Caminhar pelos bulevares de Paris, fazer uma pausa num café, sentar num banco de praça, ver a vida passar, os senhores elegantes carregando baguetes no sovaco, as moças lindas pedalando bicicletas coloridas. Ou sei lá: caminhar pelas avenidas de Nova York, entre galerias de arte e lojas de design. Pelos becos e pontes de Veneza. Pelas ruas de pedra de Roma. Mas… Caminhar em São Paulo?

Aqui não, óbvio. Aqui não é Paris. Aqui se vive a vida, se paga as contas, se anda com pressa. De carro. Janela fechada. Insulfilm. E, se alguém distrair na nossa frente, buzina nele.

Anteontem, resolvi ser turista em São Paulo. Eu e minha esposa, a Joaninha, pegamos nossas bicicletas e fomos para o centro. Era noite de Virada Cultural. Para quem não é daqui, explico: trata-se de um evento incrível, que já acontece há 6 anos. As ruas do centro são fechadas para os carros, dezenas de palcos são montados e, por 24 horas, da tarde do sábado à tarde do domingo, a cidade é tomada por música e arte e festa.

São Paulo, vista com olhos de turista

Joaninha e eu curtimos a festa até dar sono. Aí procuramos um hotel e nos hospedamos. Acordamos de manhã, passeamos um pouquinho a pé, tiramos fotos, vimos shows, comemos em restaurantes tradicionais, sentamos em bancos de praça. E voltamos para casa como quem tivesse passado um fim de semana em… Sei lá… Paris?

Havia 4 milhões de pessoas na festa (segundo os números oficiais, dos quais duvido um pouquinho). Todo mundo a pé. Como acontece todo ano, a Virada me encheu de esperança de que São Paulo tenha jeito.

Mais do que tudo, andar pelas ruas bloqueadas para o trânsito deixa uma coisa clara: é impressionante o mal que os carros fazem à cidade. Com eles, não dá para ser feliz nas ruas: as buzinadas, a fumaceira e a constante possibilidade de ser atropelado não deixam. E aí fico pensando nas melhores cidades do mundo… Nas grandes capitais europeias os carros estão em minoria no meio de gente caminhando. Nos EUA, a cultura do carro é mais forte. Mas, não por acaso, as duas cidades mais agradáveis – Nova York e San Francisco – são justamente as duas que são exceção a essa regra e que mais impõem limites aos motoristas. (Já sei o que vão dizer: que Paris e Nova York têm transporte público decente, enquanto SP praticamente nos força a usar carro. Mas, com os corredores de ônibus e as novas linhas do metrô, isso não é mais tão verdade assim).

Por mim, São Paulo não precisa de mais faixas na Marginal. Precisa é cobrar pedágio de quem entulha a rua com carros. Precisa é radicalizar a opção por transporte público: reduzir à metade as faixas para carros individuais, aumentar o espaço dos ônibus, das bicicletas, dos pedestres.

No final da tarde de domingo subimos a ladeira para a Paulista e de lá morro abaixo para Pinheiros, onde moramos. Foi um choque reencontrar os motoristas espaçosos, indignados com as bicicletas que ocupam uma faixa inteira da avenida. Fiquei pensando… Quantos deles adoram passar as férias em Paris? Por que é que a gente admite viver bem nas férias, mas não se permite nem sonhar com uma vida decente aqui na nossa cidade?

Foto: Joana Amador (CC)

52 comentários
  1. Lena disse:

    Estava pensando sobre isto ontem assistindo ao filme “Não por acaso” que se passa em São Paulo. A locação do filme mostra uma cidade feia, cinzenta, sem verde e dominada por carros. Meu pensamento foi: como o ser humano pode se “acostumar” desta maneira com o feio, com a sujeira e com uma cidade que transforma o cidadão em “algo” inconveniente e que pode ser “descartado” numa simples distração ao atravessar uma rua. um abraço LENA

  2. Claudia Chow disse:

    A minha cidade preferida até hj é Veneza exatamente pq nao tem carro! Pedestre nao disputa espaço com carros, podem falar q a cidade fede, mas é só nao ir no verao… hehehe

  3. toby disse:

    Concordo com quase tudo que você disse. Mas deveríamos cobrar pedágio é dos carros de outras cidades e estados que entulham nossas ruas. Nós paulistanos já pagamos impostos aos montes.

  4. João Santos disse:

    Por isso que prefiro o Rio de Janeiro.

  5. Rodrigo disse:

    Denis, esquerdistas como você só gostam da liberdade quando ela lhes é conveniente. Olha o espírito autoritário da frase seguinte: “Precisa é cobrar pedágio de quem entulha a rua com carros”.
    Vive fazendo discurso em prol da liberdade de escolha, mas esta frase mostra o quanto você fica enfurecido com aqueles que não tiveram a sua “iluminação” e fizeram a opção por andar com o próprio carro, pago com o próprio dinheiro honesto. Opção, diga-se de passagem, simplesmente da maioria da população brasileira. Mas quê, que esses jecas vão aprenderem com os sabichões europeus e o grande Denis!

  6. Rodrigo disse:

    E antes que você justifique que não está propondo que se proíbam os carros: cobrar pedágio é uma forma velada de autoritarismo. Na prática, está se dificultando a vida daqueles que ousaram ir contra as ordens do Estado e dos seus burocratas engenheiros sociais de plantão.

  7. Danilo disse:

    Pra mim, nao faz sentido comprarar Sao Paulo com Paris ou Nova York. Com todo o descaso político, fiscal, social, cultural e outros, é mais justo comparar a capital com a Cidade do Mexico, Lagos ou Deli.

    Minha esposa e Eu moramos em NY a 3 anos, e a cada 6 meses visitamos a familia em SP. A cada visita, minha esposa e eu nos deparamos com uma cidade mais feia, perigosa, caotica onde nao ha interesse em melhorar (inclusive da propria sociedade). Em SP vale a lei do “antes eu do que voce”, onde cada um busca se proteger da maneira que pode, sem que exista uma acao coletiva.

    Sugiro assistir o documentario “Manda Bala” (sobre SP e Brasil) que apesar de ter sido proibido de veicular no Brasil, pode ser visto na integra no Youtube. Como o próprio diretor do filme disse, a vida em São Paulo é mais parecida com aquela do filme BladeRunner.

    abraço, Danilo

  8. Luna disse:

    Danis!
    Concordo com voce que solucoes precisam ser encontradas para humanizar Sao Paulo. As Pessoas estao endurecidas, talvez como resultado da vida dificil. Porem a palavra “pedagio” me arripia. E’ taxacao dupla. Todo o cidadao deve ter o direito de ir e vir livremente. Nao so’ aqueles que podem “pagar” uma segunda, ou terceira rodada de impostos.

  9. Luna disse:

    OOPS! Quero dizer…Denis

  10. Renata disse:

    A Virada é realmente incrível, eu fui há 3 anos e comecei a acreditar que São Paulo é uma cidade bem + bacana do que eu imaginava. As pessoas super tranquilas, querendo se divertir no maior clima bom.
    Eu acho que um dos problemas em São Paulo é que as pessoas acham que é um demérito andar de transporte coletivo. Não existe uma consciência que ir trabalhar de transporte coletivo é um exercício de cidadania.

  11. denis rb disse:

    Luna,

    A questão é que o espaço está a prêmio em São Paulo. Custa caro ocupar espaço. Mas os carros ocupam espaço de graça, ao custo de piorar a vida de quem não está dentro deles. Cada pedestre vive menos por causa da fumaça dos carros – um ano e meio a menos, na média. Por que uns tem direito de ocupar mais espaço que outros?

    Enfim, entulham as ruas mesmo.

    Mas olha só: óbvio que não estou insinuando que a “culpa” seja de quem tem carro. Não se trata de achar culpados. Estou dizendo que a lógica da cidade está errada, e está injusta. Obviamente quem dirige carro não tem culpa de nada, está apenas respondendo à lógica da cidade, de maneira que dê para levar a vida. Eu mesmo dirigia um carro (bem espaçoso) até seis meses atrás.

  12. denis rb disse:

    Nossa, Rodrigo,

    Deve ser muito triste ver o mundo com os seus olhos…

  13. Mariana disse:

    Eu adoro ser turista em São Paulo. Já fiz ótimas caminhadas (minha preferida foi sair da Faria Lima, andar toda a Augusta até o Centro, Mercado Municipal). Gosto muito de caminhar por Sao Paulo e sinto a cidade mais agradável para caminhadas do que Recife, onde moro (talvez por ser de fora). Recife não é uma cidade muito convidativa para os pedestres, especialmente Boa Viagem (exceto o calçadão da praia, na Av. Boa Viagem). A falta de estrutura (iluminação, calçadas, segurança, arborização) cria um ciclo vicioso: as pessoas deixam de andar pela cidade por medo da violência; a insegurança aumenta porque as pessoas deixam de ocupar os espaços. Sinto muito falta de curtir a cidade, de ver pessoas caminhando, seja de dia ou a noite.

  14. Felipe Maddu disse:

    “Ir contra as ordens do Estado e dos seus burocratas engenheiros sociais de plantão”. Hahahahaha Quem tá andando de carro tá justamente fazendo o contrário Rodrigo, wake up.

  15. Esse post me fez lembrar da época em que trabalhei no centro, perto da Sé. Eu usava meu horário de almoço para passear como turista e fui descobrindo vários tesouros, como o Banco do Brasil Cultural que fica no perto da Bolsa de Valores e exibe diariamente exposições gratuitas, mostras de filmes etc. Visitei o mirante do prédio do antigo Banespa, almocei no ótimo restaurante do Pateo do Colégio e nas cantinas ao lado, visitei o pequeno museu que existe ali, curti um momento de silêncio em meio a todo o caos dentro da catedral da Sé e posteriormente no mosteiro São Bento, degustei várias frutas e pastéis no Mercadão e fiz vários outros passeios, simplesmente curtindo a paisagem enquanto andava de manhã, quando descia do metrô na Sé em vez da estação São Bento, apenas para curtir uma caminhada até o trabalho. Ignorando claro, vários problemas conhecidos da região, como a sujeira, o fedor etc. Voltando para a Virada Cultural, apesar de ter visto pouca coisa, perto de tudo que teve, adorei o clima e a beleza de ver a Carmina Burana ao ar livre, com um público comportado, a própria estação da Luz iluminada, com projeções de sombras dos atores na parede. Ali perto, havia outro palco onde estava sendo apresentada dança contemporânea. Foi realmente um evento engrandecedor e mostrou que podemos ter uma cidade mais humana.

    Neste link tem fotos incríveis do evento: http://blogs.estadao.com.br/olhar-sobre-o-mundo/virada-cultural-2010/

  16. jorji disse:

    Comparar Paris, Nova Iorque com São Paulo é covardia, comparar a França, os EUA com o Brasil, existe uma diferença muito grande ainda, a capital paulista bem como a grande maioria de nossas cidades são feias e mal planejadas, com uma arquitetura pobre. Em relação a veículos de uso pessoal ou familiar já está comprovado que causa um prejuizo para a sociedade, já existem estudos no sentido de eliminar os automóveis no futuro, esse é um dos aspectos fundamentais para tornar as metrópoles com melhor qualidade de vida, fatalmente acontecerá, não é nenhum sonho, é questão de necessidade.

  17. Jorge Luís disse:

    Pego ônibus na Av. Rebouças várias vezes por dia, e não uma vez em que eu deixe de pensar que algo está muito errado por ali (e com São Paulo como um todo). Os pedestres ficam espremidos no canteiro central, aguardando a oportunidade de se espremerem novamente dentro do ônibus, e enquanto isso ficam sendo literalmente “defumados” pela fumaça incessante das duas faixas da avenida e as baforadas do escapamento dos ônibus (que são viradas para a esquerda porque o mais normal é pegarem passageiros pela direita, mas no corredor é o contrário), e é difícil imaginar uma hora mais miserável no dia de todas aquelas pessoas.

    O problema não é o corredor de ônibus (sem ele a vida seria pior ainda). O problema é a lógica da cidade.

    É verdade que o transporte público é ruim, mas também é verdade que a grande maioria dos motoristas não esforça o mínimo que seja para reduzir o uso do carro ou optar pelo transporte público quando possível. Para mim, o que tem que desempatar esse impasse é nossa visão coletiva (que na teoria deveria se traduzir nas ações dos governantes) sobre que caminhos queremos que nossa cidade tome para superar esses desafios. Trata-se de incentivar cada vez mais o uso do transporte público, e desincentivar o uso dos carros, especialmente os que são usados por apenas uma pessoa. Se isso se dará com mais impostos sobre os carros, pedágio urbano ou outra coisa, é uma longa discussão. Mas colocar mais pistas na marginal não é um erro de método, é um erro de propósito – não é o jeito errado de fazer o certo, é o jeito certo de fazer o errado.

  18. denis rb disse:

    Ótimo, Jorge Luís. De acordo, Renata. Obrigado por compartilhar suas histórias sobre a cidade, Fernando Salvio e Mariana.

    Mariana, eu amo o Recife – e sou filho adotivo de lá, já que Joaninha é olindense. Mas concordo contigo sim. A lógica urbana de Recife radicaliza algo que se vê em muitas cidades do Brasil: uma espécie de apartheid urbanístico. As rotas do transporte público, as calçadas, os caminhos das avenidas: tudo dificulta o contato entre ricos e pobres. Tudo contribui para separar um mundo do outro, para dificultar o acesso do povão aos bairros turísticos. Ciclistas em Recife – conheço alguns – precisam ter o couro muito grosso. E os ossos fortes.

  19. carol disse:

    é deprimivel observar a relacao das pessoas para com nosso país. é masi fácil para muitos, colocar a culpa no poder público e passar as férias longe, bem longe, usufruindo dos bens estrangeiros, em vez de aproveitar nossas belezas naturais, e outras nem tão naturais assim. o desprezo que muitos sentem em viver aqui, onde tudo é longe e o stress é continuo deveria ser repensado. talvez se nos preocupassemos menos e vivessemos mais, nossas cidades seriam muito mais valorizadas.

  20. Felipe Maddu disse:

    Foda a tela dos Gêmeos ao fundo da foto. Só achei que tem q pulverizar a Virada Cultural, ter “Micro-Viradas” o ano todo, com o povo indo as ruas e desafiando o medo mais vezes ao ano. O problema da Virada é o mundaréu de gente, o lixo e que não dá para ver tudo, a gente sempre perde muita coisa boa e foi o que aocnteceu comigo. Vi “malemá” a Elza Soares.

  21. Ricardo Galvão disse:

    Caro Burgierman,
    Sou leitor assíduo do seu blog…e estas foi uma das idéias mais sensacionais que já li.

    “Por mim, São Paulo não precisa de mais faixas na Marginal. Precisa é cobrar pedágio de quem entulha a rua com carros. Precisa é radicalizar a opção por transporte público: reduzir à metade as faixas para carros individuais, aumentar o espaço dos ônibus, das bicicletas, dos pedestres.”

    Eu diria que qualquer cidade, São paulo, Rio, Belo Horizonte etc…
    mas Rio e Sampa, são o primor da desorganização urbana….
    Por favor…faça este movimento…repita, reescreva, desenvolva…
    Eu sempre adorei andar de bicicleta…tenho 51 e nunca mais andei…há mais de 30 anos eu não ando na rua…
    Pedágio já….quem quer conforto em tempos de economia E NÃO RESPEITA BICICLETA, que pague….
    De cara já vejo uma grande economia, pois não precisaríamos mais de ciclovia…
    e quem vai decarro, deveria ter um percurso mais longo…ou seja, bloquear as vias de acesso rápido deixando-as para os ciclistas…. e ônibus (âmbulâncias etc…)

    as ideias vão surgindo

    Valeu

  22. Maurício Bittencourt disse:

    Denis, morei em SP durante 15 anos, fiquei 4 anos ausente e agora volto para estudar. Estou sem carro e posso dizer que a cidade melhorou muito para o pedestre na última década. Os ônibus são mais decentes e numerosos, tanto em quantidade de veículos quanto de linhas. O metrô aumentou muito. Trem, bilhete único. E agora, finalmente com a invenção desse Rodoanel, o trânsito se aliviou radicalmente em algumas regiões. Sinceramente, acho que o pior de SP já passou e hj é possível viver sem carro aqui. Imagine q na década de 90 tivemos os senhores Celso e Paulo na direção da cidade. (Até o nível da direita melhorou, hehe…) Na atual temporada tenho revivido a sensação de amor por um lugar como poucos no mundo, um lugar de boas oportunidades e muita vibração. Um abraço a todos!

  23. Leomar Top Dog disse:

    Eu acho isso o máximo!
    Fico sonhando que um dia teremos faixa para veículos de alta ocupação, uma faixa onde só poderá transitar carros que tenham mais de um passageiro. E de quebra faixa para bicicletas, nada de exclusividade para motos, esse tipo de transporte é muito poluente.

  24. denis rb disse:

    Concordo contigo, Maurício. O transporte público na cidade melhorou bastante (apesar de melhorar devagar). E acho sim que a cidade tem tão entranhada a ideia de que ônibus não presta, é desconfortável e humilhante que muita gente não percebe essa melhora, e não usufrui dela.

    (tá de volta a SP, é? Estudando?)

  25. Mariana disse:

    Pois é, Denis. Eu, que sou ciclista recente (comecei em dezembro), tenho sentido a dificuldade que é pedalar em Recife. A única ciclovia da cidade é a da Av. Boa Viagem (mal projetada, diga-se). Há ciclofaixas (poucas), mas que não são respeitadas pelos motoristas. É inacreditável que Recife não tenha uma boa estrutura para os ciclistas, principalmente porque aqui há muita gente que utiliza a bicicleta como meio de transporte. Ao menos deveria haver campanhas de educação no trânsito para que os motoristas respeitassem e convivessem melhor com os ciclistas (senti a diferença de comportamento em Bogotá, onde me pareceu ser mais harmonioza a convivência entre carro e bicicleta). Eu até enviei esta sugestão por e-mail ao Detran. Obvio que não me responderam…

    Também sou recifense de coração e adoro a cidade, apesar de todos os problemas (nasci em João Pessoa, cidade bem mais aprazível).

    Sorte da Joana ser de Olinda! A parte antiga (cidade alta) é uma delícia para caminhadas. Tem um festival de música lindo em setembro, fica cheio de gente caminhando a noite pelas ladeiras, uma maravilha.

  26. Marcos Filho disse:

    Podemos sim comparar São Paulo às cidades européias, oras!

    Concordo com o texto em absolutamente tudo, Denis, e acrescento: não apenas São Paulo, mas todas as capitais do País precisam de uma revitalização urbana e de um pensamento diferente na questão do transporte público e individual. O excesso de carros em uma cidade a tranforma nessa coisa amorfa e desumana que vemos nossas cidades se transformarem. As faixas largas das avenidas, por exemplo, contribuem para reduzir o passeio público.
    O problema, no entanto, é bastante cultural: como alguém já disse anteriormente, as pessoas acham um demérito utilizar transporte público. Sem falar que, com a insegurança crescente, todos preferem trancar-se no interior de seus veículos. E a situação só piora.

  27. Marcos Filho disse:

    Ah, Rodrigo, não viaja, cara! Esse post é sobre qualidade de vida. O que isso tem a ver com direita e esquerda??? Fala sério.

  28. Júnior Alves disse:

    Olá, Denis.

    Também me pergunto o que gera esta diferença. O porquê de não termos locais bacanas como em Roma, Madrid, Paris e outras destas. Minha conclusão é a seguinte:

    1 – Nossos índices são diferentes;
    Já reparou que nossos restaurantes não possuem cadeiras e mesas nas ruas? Isto não é cultural, isto é social. Os comerciantes sabem que os clientes serão “perturbados” por pessoas implorando centavos ou oferecendo balas de goma e não vamos mencionar o risco de um assalto aos clientes ou de roubarem as mesas e as cadeiras do estabelecimento;

    2 – Nossos transportes públicos são diferentes;
    Se você mora na Serra Leoa e muda-se para a Etiópia, você pode dizer que estará em um país melhor, mas ainda está muito distante de morar em um bom país. Com o nosso transporte público ocorre a mesma coisa. Você está certo quando diz que a situação melhorou, mas saímos da situação máxima de caos para a situação caótica. Ninguém sai de casa pensando “oba, hoje vou pegar aquele engarrafamento na marginal!”. A realidade é “cara, aquele engarrafamento é uma me…, porém, mesmo com ele, chego antes no trabalho (ou na faculdade) do que se pegar um metrô lotado e mais uns dois ônibus caóticos (e sempre de pé no corredor)”.

    3 – Nossas culturas são diferentes.
    Digamos que os índices de desigualdade social e de segurança fossem nivelados, assim como o nosso transporte público proporcionasse condições para deixarmos os carros em casa. Então, teríamos espaço nos grandes centros para criar locais de passeio, de cafés, de casas de chá, de pubs com cervejas diferenciadas e tudo mais como nas cidades citadas, certo? Errado! Este espaço seria ocupado por uns 20 bares de música ao vivo que servem cerveja e petisco ou por um complexo lojista (seja um shopping, seja uma galeria).

    Abraço!
    Júnior Alves
    http://taosofia.blogspot.com/

  29. denis rb disse:

    Pois é, Marcos Filho,
    Para algumas pessoas, tudo é parte da luta entre direita e esquerda. Você não tinha amigos imaginários quando criança? Pois então… Tem gente que não consegue viver sem “inimigos imaginários”.

  30. denis rb disse:

    Não discordo, Júnior Alves. Mas para mim a questão é a seguinte: nada disso é razão para não nos permitirmos sonhar em viver num espaço público decente.

  31. jorji disse:

    O nosso país tem de parar de “sonhar”, temos que ter objetivos, planejar com critério, o futuro não pertence a Deus ou coisa parecida.

  32. Claudia disse:

    Não há nada mais gostoso do que passear a pé (ou de bicicleta) pelas ruas do centro de São Paulo. Há muitos anos atrás eu fazia isso de vez em quando, principalmente à noite. A virada cultural nos proporciona isso. Eu passei o domingo andando pra lá e pra cá, curtindo os shows, observando as pessoas, sem se preocupar com a violência. A polícia estava presente. O único problema que encontrei em vários pontos foi o cheiro forte de urina. Não do pessoal que estava lá curtindo a virada, mas esse cheiro que todos os dias você sente andando pelas ruas do centro. Eu até fiquei com receio de usar as cabines mas na hora do aperto não teve jeito. Usei uma e estava super limpa. Esse clima gostoso de virada cultural deveria existir sempre.

  33. Green Yolk disse:

    A Inglaterra já pratica a cobrança de pedágios e deu certo. A frota de carros diminuiu muito e o que se conclui é uma possibilidade para o tráfego paulista desatolar a cidade. Óbvio que o pedágio não cobriria a cidade inteira, apenas os pontos críticos, e a arrecadação serviria como investimento nesse setor exclusivamente ou para uma educação que envolva todos os aspectos relativos ao trânsito (urbanização, poluição, etc) a fim de agregar às gerações o hábito de pensar no bem-estar à saúde, à segurança e ao planeta. Após algum tempo, a população se adequaria a essa nova dinâmica e faria dela algo do âmago do cidadão, consequentemente o pedágio não faria mais diferença e seria extinguido. Os investimentos viriam agora daqueles que antes serviam para a manutenção das vias causada pelos prejuízos de acidentes.

  34. jorji disse:

    Contra o pedágio, o jeitinho brasileiro dá um jeitinho.

  35. Felipe Maddu disse:

    Não acho que o pedágio iria resolver todos os problemas do mundo. A maior necessidade é conscientizar a massa de que é ruim tantos carros com apenas uma pessoa dentro. Uma solução seria incentivar($$$) a carona amiga, não sei. Porque ás vezes é melhor incentivos do que tirar dinheiro da classe média falida. Entretanto, qualquer iniciativa para conter o “câncer motorizado” é válida. O problema não são os carros em si, mas a quantidade abissal deles. Quando, por exemplo, algum tipo de animal começa a proliferar os homens tentam controlar a população dessas espécies. A mentalidade devia ser a mesma em relação aos carros.

    PS: Eu não concordo com a sanguinária contenção populacional de bichos como coelhos, cachorros e até camelos.

  36. Francisco disse:

    Mais um que trata o motorista e dono de carro como bandido e causador de todos os males. Antes de começar a discutir sobre essas soluções radicais sugiro pesquisar qual o destino dos 40% de impostos que pagamos por cada veículo (um carro que custa 60 mil paga 24 mil reais de imposto), do IPVA, licenciamento, dos impostos sobre a gasolina, das multas, do imposto da inspecção veicular que deveriam ser aplicados em infraestrutura e transporte dentre outras coisas. Também poderia fazer uma pesquisa sobre os empregos e impostos gerados por serviços mecânicos, seguro, peças de reposição e acessórios, frentistas, até flanelinhas e cuidadores de rua. O problema está bem mais encima Sr. Denis. Acredito que tenha feito uma análise mais intempestiva que racional.

  37. Sonia L. disse:

    Tenho 53 anos e atualmente moro na Baixada Santista. Desde muito menina aprendi a caminhar com “olhos de turista” e tenho certeza que isso me ajudou a viver mais feliz em cada cidade que morei. Nasci em Sampa e nos últimos anos vivi na Europa em uma cidade com 2 mil habitantes e em outra com 50 mil. Continuo passeando por São Paulo sempre que posso, mas morar só se o trânsito melhorar…
    Quanto aos carros, me pergunto: será que essas pessoas que “não vivem sem carro” já analisaram o custo x benefício? Será que já colocaram na ponta do lápis as despesas absurdas que se tem com um carro (o carro em si, ipva, seguro obrigatório, seguro “opcional”, pedágios, combustíveis, manutenção, estacionamento, multas etc.? E o stress, e o medo? Já pararam pra pensar na violência que um carro representa com suas toneladas (quanto pesa em média um automóvel?) quando atropela um pedestre, um ciclista ou um motociclista? E a poluição?!
    Enfim, São Paulo é sim, maravilhosa. Experimentem usar “os olhos de turista” – vocês verão muitas belezas e sim, enxergarão os problemas, e muitas soluções também.
    Um abraço.

  38. denis rb disse:

    Francisco, repito:
    Não estou botando a culpa no motorista. Não me interessa achar culpados. Me interessa sim entender os problemas sistêmicos – e temos um problema num sistema que piora a vida da maioria a troco de abrir espaço para monstros de lata. Óbvio que não ignoro a importância econômica da indústria automobilística: é justamente ela que torna tão difícil avançar a discussão e que faz com que nós todos tenhamos que abrir mão de uma vida decente na cidade. Remo contra a corrente nesse assunto, sei disso. Mas, se não começarmos a remar, vamos todos naufragar junto com o colapso das cidades.

  39. Paulo Muro disse:

    Então é pela radicalização do transporte público por meio da cobrança de pedágio de quem entulha a rua com carros. Também concordo com que São Paulo não precisa de mais faixas na marginal. Até porque não resolvem coisa alguma. O problema é bem mais complexo.

    Mas queria propor uma aventura radical ao Denis Russo: Que tentasse cruzar a cidade exclusivamente por meio de transporte público, não deixando de tentar (veja bem, tentar, conseguir é difícil) embarcar no metrô (transporte público) às 18h de um dia de semana numa dessas estações: Luz, São Bento, Sé, Paraíso, Anhangabaú ou República. Depois, em uma das estações de bairro, complementar o trajeto com um ônibus (transporte público). Não estou me referindo a Pinheiros ou região da Paulista, algo mais radical. Aí sim ele iria entender o que é radicalismo em termos de transporte público.

    Depois dessa formidável experiência, então passando a entender um pouco sobre o que opinou, talvez propusesse cobrar pedágios dos usuários do metrô que entulham as plataformas de embarque.

    Incrível que ainda tem gente que acha que não usar o transporte público em São Paulo é mero luxo. É o inverso: quem usa transporte público o faz por falta de alternativas.
    Paulo Muro

  40. Bruno disse:

    Excelente artigo. Acredito que a época da Virada Cultural deva ser uma das melhores épocas para se visitar Sampa (sou de MG).
    É de amargar ver que as pessoas que utilizam o automóvel em seus deslocamentos diários teimem em ter os ciclistas como seus inimigos, sem se dar conta que um ciclista na rua é um carro a menos. Você tem todo direito de engarrafar mas não tem direito de ameaçar a vida daqueles que não querem usufruir desse “direito”.

    Em tempo, pode parecer dúbio mas por outro lado quanto mais pessoas utilizarem automóveis mais seguro será o trânsito para ciclistas, afinal, carros parados não oferecem lá muito risco rsrs…

  41. edna/com memóra disse:

    Olá! Estava lendo, tranquilamente, quando me deparo com: “_ … Não viaja, cara. Este artigo é sobre qualidade de vida. Não é sobre direita ou esquerda.
    Legal! Muito legal!

  42. Olavo disse:

    Parabéns mais uma vez!!! Eu fico impressionado ao ler os comentários, como tem gente burra nesse país!
    Vida longa e próspera ao Colunista Denis Russo e seu Sustentável é Pouco!

  43. Jorge Luiz disse:

    O lema do motorista brasileiro é: flerte com a minha mulher mas, não esbarre no meu carro.

  44. Monica L. disse:

    Adorei esse seu artigo! Quando eu vivia no Brasil, eu tinha os meus dias de Policarpo Quaresma, como eu gostava de chamar. Saia e ia passear em Sao Paulo. Eh engracado como isso eh tao simples, mas ao mesmo tempo tao diferente! Todo mundo adora cantar as cancoes de Caetano, mas sao poucos que realmente conheceram o cruzamento da Av. Ipiranga com a Av. Sao Joao (ou passaram por lah e realmente pararam para apreciar).

  45. Jeniffer Heemann disse:

    Não consegui ler todos os comentários porque uma frase simplesmente me fez parar: “quem usa transporte público o faz por falta de alternativas” (é com você mesmo, Paulo. hehe)
    Preciso discordar, porque eu sou um exemplo vivo do contrário: EU NÃO TENHO CARRO PORQUE OPTEI NÃO TER CARRO.
    Eu tenho condições financeiras de ter um carro, mas não quero comprar um tão cedo. Não dirijo porque o trânsito me estressa e eu sinto como se estivesse perdendo tempo. Eu prefiro mil vezes caminhar 15 minutos até o ponto de ônibus e usar o transporte público. Mas acho que para algumas pessoas caminhar e pegar ônibus simplesmente NÃO É ALTERNATIVA.
    Quando está chovendo ou estou meio doente, eu pego táxi. Se eu usasse apenas táxi todos os dias, gastaria menos do que comprando um carro. Mas acho que para algumas pessoas fazer o cálculo de quanto gastariam ou economizariam de tempo e dinheiro com táxi NÃO É ALTERNATIVA.
    Sexta, quando o trânsito está insuportável e nem pegando táxi ou ônibus adianta, eu saio mais tarde do trabalho ou caminho 50 minutos até a minha casa. Mas acho que tentar solucionar os problemas para algumas pessoas simplesmente NÃO É ALTERNATIVA.
    Logo, sem alternativa nenhuma, elas acabam escolhendo a opção mais óbvia e fácil: o carro.

    Claro que muitas pessoas não poderiam fazer o que eu faço, porque não têm a sorte de morar perto do trabalho como eu. Essas pessoas DEVEM ter carro. Porque é óbvio que gastar mais de uma hora em metrôs lotados ou ônibus caindo aos pedaços NÃO É ALTERNATIVA mesmo.
    O problema é que as pessoas que moram perto do trabalho e que poderiam fazer como eu simplesmente não fazem, porque acham que não tem alternativa. Estão acostumadas demais com o “conforto”. Caminhar é ruim. Pegar táxi é ruim. Pegar ônibus é pior ainda.
    Se elas pensassem em SOLUCIONAR em vez de apenas RECLAMAR, elas deixariam o trânsito mais livre, para que as pessoas que realmente precisam enfrentar ele não tivessem que passar tanto perrengue.
    Falta pensar no COLETIVO. Falta ver que tem, sim, MUITAS ALTERNATIVAS.

  46. Cris Ventura disse:

    Maravilhoso o seu post! Sensacional a foto da Jô! Sempre penso em fazer isso: andar pelas ruas, avenidas, ir aos eventos, visitar os museus e explorar SP como turista! Até faço isso de metrô com meu filhote…Vamos a teatros dos SESCs, andamos pela Paulista e tirei foto slindas na Casa das Rosas…Coisas simples da vida que podem estar mais próximas do que pensamos. Cclaro que Paris é bacana, mas nem sempre é preciso ir tão longe. Tenho fé em SP! Beijo pra vc e pra Jô! Cris

  47. Eduardo Biral disse:

    Oi Denis, antes de mais nada parabéns pelo teu blog. Sou amigo da Biba e lá na academia todos acompanhamos o seu trabalho e a corujice da tua mãe. Acabei de voltar de Berlim, e não tinha percebido o porquê de gostar tanto desta cidade. Eles realmente optaram pelo transporte coletivo prioritário. Tem metrô de superfície passando por todos os lados, inclusive ladeando monumentos históricos. Poderia se dizer que causam poluição visual, mas quando se vê a eficiência e a pontualidade tudo fica relativo, o sistema se torna lindo. Também me encaixei no que você descreve como o transporte público só usado fora e tenho minha parcela de culpa pelo caos da cidade usando sempre o meu automóvel. Acredito que se todos usássemos mais o transporte coletivo, apesar de ainda deficitário, teríamos força para cobrar melhorias. Na verdade acredito que a solução é justamente o caminho inverso, primeiro todos usando o transporte coletivo deficiente para haver força para cobrança de melhorias. Senão vem sempre aquele discurso hipócrita: eu uso meu carro porque o transporte público é ruim. Quem ama esta cidade deve realmente mudar de atitude. Você me fez refletir e tentar colocar isto como meta. Deixar o veículo o máximo de tempo na garagem.

  48. paulo disse:

    Denis voce escreve sobre sustentabilidade num mundo para bem nascidos, que viajam que tem cultura ou sonham em ter. um mundo real preocupado com a preservação da vida no planeta deve ir além, muito além dessas egoisticas nuances da vida humana.

    • denis rb disse:

      É o contrário, paulo. Elitismo é achar que só os parisienses têm direito a viver num lugar agradável. Quero que se possa viver bem aqui também.

  49. deborah/ SP disse:

    Denis & Joana: tb tenho o maior prazer em caminhar pelas ruas do centro de SP. Quanto mais longe das ruas com tráfego de carros intenso, melhor. É como a Sonia disse: “caminhar com “olhos de turista” .. “.. Um dia a gente chega lá, com mais espaço para pedestres e bicicletas. Com certeza o mundo todo vai sair ganhando com isso.

    deborah/ SP

  50. deborah/ SP disse:

    AH! Realmente a Virada Cultural é um ponto máximo para o Centro de SP. caminhar sozinha de madrugada pelo Viaduto do Chá, descer pro Vale do Anhangabau, olhar pra cima, ver os prédios, sentir arte e música, e GENTE FELIZ com as crianças, familias inteiras passeando, deitadas no jardim do Teatro Municipal…e o melhor de tudo, de madrugada, SEM MEDO! PArece que tem uma simples solução possivel por aí, não? PElo menos, esta alternativa deu certo, muito certo. As pessoas precisam aprender a ter tempo e andar e amar a cidade. EU demorei um pouco, vinda do interior, mas agora sei como… e quando… Porque o poder publico não aproveita esta descoberta e faz algo que preste para o povo de SP??? deborah/ SP

  51. deborah/ SP disse:

    Ainda… uma das razões deste sucesso e tranquilidade nas ruas do Centro durante a Virada Cultural, com certeza, é o intensivo policiamento. Tirando o cheiro de urina em muitos cantos… eventos de tão alto nivel gratuitos pra população, são um presente pra SP e pra todos nós!

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