Não entendo o Brasil

Escrevo este post no começo da tarde de segunda-feira. Daqui a pouco, 11 homens de amarelo vão se alinhar solenes em Johannesburgo enquanto aguardam os triunfais acordes iniciais do Hino Nacional Brasileiro, o popular “Ovirudum”. Todos eles acompanharão com os lábios os versos iniciais. E, depois, provavelmente, irão parar de cantar, por desconhecerem a letra.

Um hino nacional é um símbolo da pátria. Fico me perguntando o que o Hino Nacional Brasileiro simboliza então. Para mim, simboliza a falta de vontade do estado de se fazer entender pelo povão.

Como se sabe, a sentença inicial do hino, se fosse ordenada de maneira direta, seria “As margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado retumbante de um povo heróico”. Simples assim. Aí, num esforço para complicar as coisas, a frase foi picotada em pedacinhos e remontada toda ao contrário. “A pátria não é para você entender”, é o que este hino me diz. Típico de um país inventado por uma elite que estava preocupadíssima em não se misturar com o populacho.

Vejo em todas as partes esse descompromisso do Brasil com facilitar as coisas para a população.

Por exemplo, acabei de pagar uma conta, pela internet. O site do banco me pediu para digitar a série de números acima do código de barras. Cada um dos dígitos mede pouco menos de dois milímetros de altura. A série de números começa assim: 85800000016-0. São seis zeros seguidos, um coladinho no outro, quase indistinguíveis. E depois vêm mais três outras séries de números como essa. Um total de 48 algarismos. Por sorte, aos 37 anos, minha vista ainda não está cansada. Mas enxergar esses números seria impossível para o meu pai, por exemplo. Lembro de como era pagar contas nos Estados Unidos: era digitar meu número de segurança social (algo como o cic de lá) e pronto.

Outro exemplo. Ontem à noite, peguei um ônibus. Reparei no “painel de informações” do ponto de ônibus. Era assim:

Absolutamente incompreensível. Olhando este mapa, não dava para saber como se conectar aos outros corredores de ônibus, não dá para ter ideia de que ônibus leva para que lugar, não dá para colocar a avenida onde eu estava no contexto da cidade. Claro, era minha obrigação saber qual ônibus pegar – assim como cabe a mim descobrir qual é o sujeito e qual é o predicado do hino nacional.

Exemplo ainda mais assustador dá para encontrar na linguagem jurídica brasileira, cheia de jargões, de referências cifradas, de palavras pouco usuais. Há um tempo atrás, editei uma revista chamada Gotas e um advogado divertido chamado André Salomé escreveu para nós uma matéria sobre o juridiquês. O exemplo dele: “pelo princípio da insignificância, a caracterização da conduta como furto famélico elimina a tipicidade material, excluindo-se, dessa forma, a tipicidade conglobante e, por conseguinte, a tipicidade penal. Dessa forma, sendo atípica a conduta, não há crime.”. Ou, em português: “roubar para comer não é crime”. Advogados, juízes e legisladores falam uma outra língua, incompreensível para o cidadão médio. Truque básico para deixar a lei inalcançável.

Eu mesmo, como jornalista, sinto a pressão por escrever difícil. A cada vez que uso um texto um pouquinho mais coloquial, recebo alguma reclamação afirmando que estou “baixando o nível”. Baixar o nível, no caso, é se fazer entender. E assim vamos perpetuando essa bobagem fundadora do Brasil: a de querer falar difícil para provar que não somos “qualquer um”.

Portanto, se eu estivesse alinhado, de amarelo, no campo de futebol, enquanto soa o belo Hino Nacional, manteria meus lábios cerrados. Que “fúlgidos” o quê? Que “penhor”, que “garrida”, que “fulguras”? O que importa é fazer gol. Isso eu sei o que é.

56 comentários
  1. Lucas Jerzy Portela disse:

    Denir,

    você ia então amar o Hino ao Dois de Julho, hoje Hino Oficial do Estado da Bahia (não-oficiais, o frevo-eletrico Chame-Gente de Armandinho Macedo e a Oração do Senhor do Bonfim continuam sendo…), bem como toda a festa que a envolve.

    Dois de Julho de 1823 é o fim da guerra de independencia do Brasil, na Bahia. Sim, houve guerra. Começou antes do Grito do Ipiranga, em junho de 1822, em Cachoeira, Recôncavo Baiano. 2 de Julho é a retomada de Salvador através da Batalha Naval liderada por João das Botas (almirante Lord Cochrane treve caganeira no dia e não estava lá), uns 12 saveiros armados com canhões improvisados a partir de alambiques fundidos, contra galeões portugueses. Venceram. E por terra, através do subúrbio das Colinas de Pirajá. Em Pirajá o General Labatut mandou tocar “bater em retirada”; o Corneteiro Lopes, dos Batalhões dos Periguitos, nascido em Maragogipe, desobedeceu e tocou “avançar cavalaria”. Vencemos!

    O que é notável no Dois de Julho? Uma guerra popular (embora patrocinada pela aristocracia canavieira, algodoeira, fumageira e diamantina), em que a ajuda de Dom Pedro I (os generais gringos Labatut e Cochrane) não ajudaram porra nenhuma.

    Ainda hoje o desfilo começa em bairros da periferia de Salvador: Lapinha, Liberdade, Soledade, Barbalho. Quem organiza? O povão! Só quando cruza a cidade velha do Carmo ao Pelourinho ele se torna oficial e o governo tomas a rédeas – e perde toda a graça…

    No desfile até o Carmo tem travesti, filarmonica do interior, avó, netinhos nos colos delas, sambão, pagodão, vereador pedindo voto, o escambau! E, há, a estrela cívica: uma liteira que carrega a imagem de uma Cabocla Tamoio!

    Vamos ao hino, um primor de objetividade e de empoderamento popular:

    “Nasce o Sol
    ao dois de Julho
    e brilha mais que no primeiro

    é sinal que
    neste dia
    até o sol – até o sol é brasileiro!

    Nunca mais
    nunca mais o despotismo

    regerá
    regerá nossas ações

    com tiranos não combinam
    brasileiros corações

    Salve, oh! Rei das campinas
    De Cabrito e Pirajá
    Nossa pátria hoje livre
    Dos tiranos não será

    Cresce, oh! Filho de minha alma
    Para a pátria defender,
    O Brasil já tem jurado
    Independência ou morrer.”

    note: Cabrito e Pirajá são bairros ainda hoje de subúrbio, ex-quilombos!

    Não há uma referencia a Graça, Comercio, Santo Antonio, Maciel de Cima (atual Pelourinho), bairros nobres da vetusta Capital Reconvexa. Ou a Caetité, Rio de Contas, Cachoeira, cidades ricas que financiaram a guerra.

    É uma data do povo, pelo povo, para o povo. Venha ver um ano desses que você vai gostar.

  2. Ricardo Galvao disse:

    Caro Burgierman…mais um excelente texto…
    isto tudo sem falar das dissertações de mestrado e teses de doutorado ininteligíveis…rsrs
    Schopenhaer já dizia, quem tem o que dizer diz fácil, quem não tem o que dizer complica para parecer culto, inteligente…assim pensa a outra elite a dos mestrados e doutorados…que acham que falar difícil é símbolo de intelectualidade e sabedoria. A estes eu mando ler ” A ARTE DE ESCREVER” de Schopenhauer…
    Abração do seu fã carioca…

  3. Leonardo Xavier disse:

    Denis, Eu acredito que o são duas coisas que fazem ser custoso ao brasileiro lutar pelos seus direitos, primeiro entender os seu direitos e depois uma luta ainda mais terrível contra a burocracia para requerer esses direitos. E eu acho que não é só o estado, outro dia desses fui fazer uma conta para um provedor de internet gratuita, por que o meu pai queria poder acessar a internet discada em outros locais com um laptop, dá para ver que eles utilizam linguagem complicada e tem sempre aquelas maldades de deixar um serviço extra opcional marcado para pegar as pessoas desavisadas. E uma vez que você tenha contratado o serviço desses, já dá para imaginar a burocracia e argumentações dos atendentes para se cancelar o serviço.

  4. ig disse:

    pô Denis, tava do lado de casa! Dá proxima vez faz uma visita pra gente!

    curti o texto, parabens!

    [ ]s ig

  5. Rodrigo disse:

    “Típico de um país inventado por uma elite que estava preocupadíssima em não se misturar com o populacho.”
    Esse é daqueles burguesinhos-mauricinho que se acha o defensor dos fracos e oprimidos!
    Denis, você é uma caricatura ambulante, um burro, um estúpido, um filhin-di-papai mimado,safado e vagabundo!

  6. Rodrigo disse:

    Vai trabalhar em vez de ser um estorvo pra sociedade rapaz! Escrevendo “textin” em blog, enquanto tenta empatar quem só quer trabalhar e produzir neste país! Enfin, ser alguém útil!
    SEU ATOA!

  7. Seiichi Okada disse:

    Desculpa, mas na minha opinião o nível dos cometários do Rodrigo estão em um nível cosiderável ofenssivo para nós que visitamos o blog, acho que nós (nem você Dennis) precisamos tolerar esse tipo de ataque pessoal realizado através deste meio de comunicação.

  8. Felipe disse:

    O Rodrigo é um coitadinho de um Troll, que não tem ideias próprias e tem inveja das dos outros.

  9. denis rb disse:

    Quer saber? Você tem toda razão, Seiichi.
    Rodrigo, ponha-se daqui para fora. Nesta minha padaria você não entra mais. Fora daqui, nunca mais volte. Vou deletar qualquer comentário que você fizer. Cansei de você. Vá aporrinhar outro.

  10. gino carvalho disse:

    Realmente, quem planeja essas coisas, são pessoas que não utilizam, normalmente essas placas só servem para quem já tem idéias de onde ir. São Paulo só fala em integração entre trens e onibus, mas é tudo enrolação politica, os onibus que passam na marginal Pinheiros não tem um ponto na porta das estações, são todas a uma certa distancia.Péssimas em dias de chuva.Entre metrô e trens existem cancelas afunilando a passagem de um para o outro, as estações de metrô são feitas para subir e descer do mesmo lado, como se não houvesse aglomeração e empurra-empurra, em vez de descida de um lado e embarque do outro. A estação Paulista e consolação, parece que não foram planejadas para se cruzar vide a distância, mesmo com esteiras rolantes. O mesmo ocorre no encontro do Metro santo Amaro com a estação sto amaro CPTM a distancia para descer do metro e embarcar no trem é grande, sendo que poderiam colocar escadas de acesso no encontro das duas e não na ponta da estação. Exemplos de desencontros que desestimulam o uso é enorme. vide algums metros em horário de pico na chuva ou frio onde as pessoas ficam em filas do lado de fora.. custava mudar a catraca ou bilheteria mais para o fundo ou mesmo em andar mais inferior ?

  11. marcus disse:

    Achei o texto muito superficial. Reclamar do Hino Nacional? Por favor! Não é porque a maioria dos brasileiros não a compreendem que a letra é errada. Os brasileiros que aprendam a ler! “Aí, num esforço para complicar as coisas, a frase foi picotada em pedacinhos e remontada toda ao contrário.” Que bobagem! Chega a ser até engraçado de tanta bogagem que você escreveu. rsrs

  12. denis rb disse:

    Lucas,
    Tem razão. Este hino dá para entender inteiro.

  13. denis rb disse:

    Pois é, Ricardo Galvão,
    Outro ótimo exemplo esse seu.

    Tenho um amigo que, além de jornalista e escritor, é acadêmico. Ele disse que uma professora da universidade uma vez disse para ele o seguinte: “você escreve bem. Mas o seu problema é que você escreve para ser lido”.

  14. denis rb disse:

    ;-), Raquel!

  15. denis rb disse:

    gino carvalho,
    Meu exemplo preferido disso que você está falando é a estação Sumaré do metrô. Ela fica suspensa numa ponte sobre a Avenida Sumaré. Mas, se você estiver na avenida e quiser subir, não vai encontrar nenhum acesso. Não há escadas nem elevador – você precisa andar uns três ou quatro quarteirões para chegar à entrada da estação. Uma vez tentei escalar o barranco para encurtar o caminho – lá em cima encontrei uma grade, para impedir que as pessoas chegassem ao metrô. Enfim: nem as estações de metrô são feitas para os pedestres em SP.

  16. Luciano Saraiva disse:

    Certeiro, Denis! Lembro de Descartes, que preferiu escrever suas obras fundadoras das Exatas em francês para que elas estivessem ao alcance do povo, que não dominava o latim. Stephen Hawking, Carl Sargan, Marcelo Gleiser… Todos brilhantes. E pregam que, se os cientistas não se fizerem entender pelo povo, pode acontecer o mesmo que ocorreu com a Biblioteca de Alexandria: 5 mil anos de descobertas quaimadas por que o povo não via importância alguma naquele monte de canos de papiro/pele. Levamos 2 mil anos pra redescobrir algumas coisas. E tem o José Goldemberg, grande físico da USP que reconhece que toda “sua turma” (que incluía César Lattes) era tão elitista que, enquanto estudavam buracos negros, estavam “pouco se lixando” para o “povo”. E por isso, diz Goldemberg, esqueceram de ajudar a construir uma nação. Eu faço Ciência da Computação e fico abismado com a babaquice dos livros tradicionalmente usados em cursos das Exatas no Brasil: termos do latim porcamente aportuguesados (tínhamos de ser uma elite de “romanos”), em vez de traduzidos, e assim tornados incompreensíveis. Por sinal, Portugal e Brasil não têm NENHUM matemático na História. E gênios não faltaram. Se você assiste uma aula de Física de Walter Lewin no MIT (os cursos de graduação são gravados e abertos na internet), sente nojo das “missas” que chamam de aulas de exatas por aqui. Talvez, parte da razão de sermos assim, seja um sentimento de inferioridade. Que nos leva a querer a autoafirmação. Se vamos escrever um hino, tem de ser na ordem inversa, imitando a ordem direta do latim. Deviam saber que Roma não sabia fazer contas e só aprendeu quando um italiano, aberto à “invasão cultural”, importou um sistema de “porcos árabes”. Temos a necessidade de nos separar do “povo” e voltar ao grande Império. Quanta insegurança!
    Parabéns pela Super, que, classificada de “pseudo-científica” por “gênios rebeldes à burguesia” como Lobão, pelo menos sabe da importância de deixar o público a par da ciência que se faz por aí.
    Abração

  17. denis rb disse:

    Pô, Luciano Saraiva, obrigadão,
    Na Universidade Stanford há quase 20 professores de “escrita criativa” e “escrita criativa de não-ficção”. Os alunos são gente da universidade inteira: engenheiros, médicos, arquitetos, cientistas, designers, advogados, programadores de computador, escritores, cineastas. As aulas são workshops fascinantes, nos quais se lê muito, se escreve muito e se critica muito os textos uns dos outros. Os professores são recrutados entre os mais talentosos jovens escritores do país. Aí todo mundo lá se forma sabendo escrever bem e com clareza. Não é à tôa que Stanford tem tantos escritores de bons best sellers no seu corpo docente, nas mais diferentes faculdades (direito, psicologia, biologia, medicina).
    Já na USP ninguém aprende a escrever – nem mesmo no curso de jornalismo (tive bons professores na USP, mas nenhum deles dava workshops de escrita práticos como os de Stanford).

  18. Acir disse:

    Reflexos da Era Lula: “vamo falá como o povão entende, certo mano?”. De acordo com a filosofia da Era da Mediocridade, para se fazer justiça e para o entendimento geral é melhor nivelar por baixo. Este é o mesmo raciocínio das cotas na universidade.Em vez de investir e melhorar o ensino básico e médio abrem-se as portas dos fundos da academia com o pretexto de se corrigir uma injustiça. A letra do Hino Nacional é incompreensível para a maioria dos brasileiros? Deve ser para a mesma maioria que não estudou português ou sofre de alergia aguda à boa leitura. Uma coisa é “falar difícil” para não se fazer entender. Muito poucos tem essa capacidade. Outra é falar corretamente e não ser entendido pela ignorância. Isso tem cura: cahama-se estudo!!!! Quanto ao “juridiquês”, todas as profissões tem a sua linguagem específica. Engenheiros, médicos,etc. Alguém consegue entender alguma coisa que o pessoal de Teclogia da Informação fala?

  19. denis rb disse:

    Caro Acir,
    Com falar corretamente concordo eu. Acho também eu que bom domínio da língua importante é. Mas igualmente acho eu que besteira é as frases de uma sentença inverter simplesmente. O hino brasileiro como Mestre Yoda fala. E isso faz para complicar apenas.
    Certo, mano?

  20. Luna disse:

    Eu tambem nao intendo…
    Vivemos na era da comunicacao. Comunicacao eficiente com poucas palavras e’ uma arte e uma necessidade. A lingua, de uma maneira geral, reflete o povo e vice-versa. Nos brasileiros, somos um povo um pouquinho enbrulhado. Podemos melhorar…

  21. Jefferson disse:

    O final do texto é exatamente a razão de eu gostar tanto dos seus textos Denis 😉 O estilo do texto e o jeito de simplificar são, sem brincadeira, únicos.

  22. celso disse:

    O fato de não possuir uma escrita não priva a África de ter um passado e um conhecimento. Como dizia o mestre Tierno Bokar: “A escrita é uma coisa e o saber é outra. A escrita é a fotografia do saber, mas ela não é o saber em si. O saber é uma luz que está no homem. É a herança de tudo o que nossos ancestrais puderam conhecer e que nos transmitiram em germe, exatamente como o baobá, que já está contido em potência em sua semente”.

  23. Marcos Filho disse:

    Denis, pelo amor de Deus! Você está confundindo as coisas. Entenda que há, por trás da letra do Hino Nacional, uma (belíssima) melodia. Os floreios que, de fato, existem no Hino, são utilizados da mesma forma que ocorrem em poemas: dão melodia e sonoridade. “Ouviram do Ipiranga às margens plácidas de um povo heróico o brado retumbante”. Este verso, sobre o qual você erige um raciocínio algo estranho, é de uma melodia e beleza talvez sem paralelo no resto do mundo, exceção que faço, por exemplo à belíssima Marselhesa. Aliás, é interessante ver a “fala do mestre Yoga” dos franceses no verso “Entendez-vous dans les campagnes mugir ces féroces soldats”.
    O Hino Nacional é mesmo um tanto parnasiano, sem por isso soar ridículo ou desnecessário. Não é: é belo e extremamente bem elaborado. Quem não o entende? Jogadores de futebol? Uma população que lê, em média, 4,7 livros ao ano (incluindo-se na conta a Bíblia e livros didáticos)?
    O Acir tem razão. Há, sim, pessoas que “falam difícil” para esconder ideias mal trabalhadas. Há também aqueles que assim o fazem porque dominam a língua e, ao expressarem-se dessa forma, evitam erros de interpretação. Um exemplo: em cada post seu, surgem dezenas e dezenas de comentários indagando (ou refutando) um ou outro pensamento do texto, aos quais você responde com “você não entendeu” ou “não foi isso que eu quis dizer” ou ainda “o texto não fala sobre isso”. E olha quevocê escreve fácil!
    O que ocorre é que, na ânsia de nos “fazermos entender”, vamos aposentando, eliminando ou substituindo tantas palavras, em um processo que acelera em muito o natural desenvolvimento da língua, que contribuimos para o empobrecimento do pensamento. É o que vejo, por exemplo, na maior parte dos alunos das universidades. Muitos, simplesmente, não conseguem se expressar sobre assuntos banais, que eles dominam. Faltam palavras, interjeições, adjetivos, construções lexicais que acompanhem seu raciocínio. E depois, nos jogos da seleção, ficam com cara de abobalhados, perguntando a si mesmos afinal que raio brado retumbante é aquele.

  24. denis rb disse:

    Marcos Filho,
    Olha só: eu não estava sendo irônico quando disse (no último parágrafo) que o hino é belo. É belo sim, e uma comparação com 70% dos hinos executados nesta Copa deixa claro que estamos sem dúvida no quadrante de cima.
    A melodia, como você diz, é belíssima.
    E a letra, realmente, é riquíssima em melodia e sonoridade.
    Não pretendo negar isso.

    Mas repito: a prioridade não é ser entendido.
    Não dá para comparar os jogos de quebra-cabeças do nosso Hino Nacional com as frases bastante diretas (e muitas vezes violentas) da Marselhesa. A frase que você citou, por exemplo, traduzo abaixo dentro do contexto:
    “Avante Filhos da Pátria

    Ouvides nos campos
    Rugirem esses ferozes soldados?
    Vêm eles até os vossos braços
    Degolar vossos filhos, vossas mulheres”

    Enfim, não apenas é uma frase muitíssimo direta e clara, é também uma cena altamente gráfica, uma imagem literária poderosa. Não há crianças e mulheres degoladas no Hino Nacional (o que tem um lado ótimo: que bom que o nosso é menos violento). Não há cenas, não há imagens. O que há são elocubrações intelectuais (bastante rasteiras, aliás) sobre o raiar do sol do novo dia, os raios fúlgidos do sol da liberdade, o seio da liberdade e outras abstrações.

    Veja bem: não quero comparar hinos, decidir qual é melhor. Isso seria uma bobagem – deixo essas competições para o futebol. O que quero é falar de um traço bem brasileiro (nossa doença de achar que ser entendido é ruim) e mostrar como essa doença se manifesta em toda parte, inclusive no nosso hino.

  25. Marcos Filho disse:

    Hehehe… ok, ok. Eu citei a Mareselhesa não para comparar (e nem para dizer que é tão complexo quanto o nosso hino), mas para evidenciar a “fala do mestre hioga” em “Ouvides nos campos rugirem esses ferozes soldados”. Há uma inversão, não há?
    E olha só, mais uma vez, você se explicando: “quero é falar de um traço bem brasileiro”. Seu texto, de tão simples, foi mal compreendido. Acabei me atendo à sua comparação com o Hino Nacional, que se justifica como um exemplo para facilitar o entendimento (uma imagem).
    Aliás, é justamente a respeito da dificuldade em se compreender abstrações um dos maiores problemas em nosso aprendizado. Vide as péssima avaliações de interpretação de texto. E o problema está no hino????

    Abçs

  26. denis rb disse:

    Pois é, Marcos Filho, há sim uma inversão nessa frase da Marselhesa.

    Mas em “ouviram do Ipiranga as margens plácidas de um povo heróico o brado retumbante” há uma meia dúzia de inversões (até onde eu consegui contar). Numa frase só! Não apenas a ordem sujeito>verbo>predicado virou verbo>sujeito>predicado como cada um desses elementos é invertido por dentro. Por exemplo, o sujeito virou “do Ipiranga as margens plácidas”, em vez de “as margens plácidas do Ipiranga”. É muito querer despistar o cidadão.
    Eu concordo contigo: somos uma nação de gente que não sabe interpretar textos. Mas acrescento: somos assim em parte porque aqui não se valoriza a clareza (e portanto não se valoriza a interpretação). Aqui basta falar difícil e você já pode entrar na festa. Então para que ser claro?

  27. Marcos Filho disse:

    Chega de discutir o Hino Nacional: parnasianismo, Denis, parnasianismo!!! É poesia, enfim. Bela poesia. Se você ler a letra do hino, apenas, notará o ritmo presente nos versos. Duvido muito que Osório Duque Estrada, quando elaborando a letra para a melodia composta anos antes por Manuel da Silva, pensasse lá com seus botões: “vou inverter essa oração aqui, vou tascar uma subordinação ali, vou omitir esse sujeito… hehehe, vou despistar o cidadão! Ninguém vai me entender!”. Eu, um século depois, entendo com facilidade, e isso desde criancinha. E olha que não sou nenhum gênio prodigioso.
    De fato, muitas idéias porcamente elaboradas em termos de conteúdo escondem-se atrás de uma escrita (ou fala) extremamente trabalhada. O mesmo, no entanto, pode ocorrer com a linguagem dita “clara”. Ou você nunca viu quantos charlatães utilizaram da clareza e das metáforas simplórias para empurrar teorias ou pensamentos insustentáveis?
    Outra: posso ser claro, límpido até, utilizando termos como “fúlgidos”, “penhor” ou “garrida”. O problema é que você está confundindo clareza, necessariamente com “pobreza da língua”. Não é a mesma coisa.

  28. Surfs disse:

    Com certeza Denis. Falar e escrever com simplicidade e elegância não é pra qualquer um!
    .
    Logo após ler seu texto me veio à cabeça o movimento da Bossa Nova. Agora mesmo tô cantarolando “Samba de uma nota só”:
    .
    “Quanta gente existe por aí que fala tanto e não diz nada, ou quase nada…”
    .
    rs
    .
    Abs

  29. Felipe disse:

    Acir, o médico estuda, ganha uma bolada, e tem obrigação de escrever direito, legivelmente, pois serve ao povo. Assim como o professor (que não ganha nada, reflexos de duas décadas de PSDB em SP e quase uma década de PT). Não tem nada a ver com “juridiquês”. Quantas ideias preconceituosas afff Eu conheci pessoas com o Prouni inteligentíssimas, de classe média-baixa e que economizaram 500 mangos, que estão voltando a circular na economia. Investimento em educação básica é vital, principalmente em SP, que, curiosamente, é o motor do país e ao mesmo tempo tem o ensino precário (exp própria).

  30. Acir disse:

    Felipe, está aí um belo exemplo de incapacidade para interpretar um texto. Onde no meu comentário eu digo que os médicos devem escrever de maneira que o “povo” não entenda? Onde no meu comentário eu digo que alunos que aderem o PROUNI são menos inteligentes? Ao contrário de uma leitora que comentou anteriormente, eu entendo (e não “intendo”) que falar corretamente não é falar difícil, e podemos nos comunicar usando o português corretamente. Pode até ser simpático criticar a complexidade do Hino Nacional, embora me pareça totalmente improdutivo, mas o mercado de trabalho quer saber mesmo se podemos entender o que lemos e se podemos nos comunicar clara e corretamente. Então eu repito a receita: estudo. Ou esperar que a Era da Mediocridade se eternize, assim nem diploma precisaremos.

  31. Luna disse:

    Denis…
    Acho esse blog confuso, pois na minha opiniao focaliza em dois pontos completamente distintos. Um deles e’ uma critica a um sistema burocratico que nao utiliza a lingua como meio de comunicacao eficiente que possa facilitar a nossa vida como cidadaos brasileiros. Em comentario anterior me detive tao somente a esse ponto de vista, pois acho que precisamos crescer muito nesse sentido se e’ que aspiramos pertencer ao grupo de pais de primeiro mundo. O segundo enfoque foi uma critica ao hino nacional, ideia a qual nao compartilho.
    O hino nacional e’ um simbolo de nossa patria. Uma tradicao. Uma obra de arte. Como tal, eu posso ate’ nao gostar do estilo (o que nao e’ o caso), mas como cidadao tenho o dever de respeitar. Existem deveres de cidadao e esse e’ um deles. Um dos mais pequenos, por sinal.
    O meu coracao bate forte quando o nosso hino nacional e’ tocado no comeco de cada jogo do Brasil. Sinto orgulho de ser Brasileira. Agora o que nao da’ para ter orgulho e’ de um povo ignorante ou de um presidente com um vocabulario parco, e isso nao tem nada a ver com o excesso de palavras “dificeis” do hino nacional, muito pelo contrario.

  32. denis rb disse:

    Acir,
    Também não acho que o Osório Duque Estrada pensou conscientemente “vou despistar o cidadão para ninguém me entender”. Mas acho sim que ele inconscientemente fez essa opção, porque se criou num ambiente que valorizava a complicação e que não julgava necessário ou sequer desejável comunicar-se com clareza. E acho sim que essa atitude denota o elitismo fundador da nação brasileira.
    Não acho que eu esteja confundindo clareza com “pobreza da língua”. Meu tema é clareza. Não estou falando de “pobreza da língua” – esse tema foi você que introduziu na discussão.

  33. BENEDITO disse:

    LARGUE A MÃO DE ASSINAR ATESTADO DE IGNORANTE, ESTUDE MAIS E VC CONSEGUIRÁ ENTENDER A LETRA DO HINO NACIONAL. NORMALMENTE OS IGNORANTES NÃO QUEREM APRENDER, EXIGE ESFORÇO, É MAIS FÁCIL FALAR QUE É DIFÍCIL E FORA DE MODA.

  34. Marcos Filho disse:

    Benedito, não acha que seu comentário está um tantinho mau escrito para quem exige estudo? hehehe…

    Hi,Denis, você me confundiu com o Acir…
    De fato, eu introduzi esse tema, mas a partir da simples leitura de seu texto. Se você escreve “que ‘fúlgidos’ o quê? Que ‘penhor’, que ‘garrida’, que ‘fulguras’? O que importa é fazer gol (…)” para argumentar que a presença de tais termos é sinal de “fala difícil”, eu argumento que a falta deles não é sinal de clareza, mas de “pobreza da língua”. Ora, eliminar esta ou aquela palavra, por considerá-la impopular ou em desuso (ainda que, de fato, não esteja) mais dificulta a articulação de pensamentos que a facilita. Portanto, ainda que seu tema seja clareza, o seu post aborda, sim, a “pobreza” (perdoe-me o eco).
    Enfim, deixemos Osório Duque Estrada e seu elitismo em descanso. Sei apenas que não é tão difícil entrar para essa “elite” que entende o Hino Nacional com facilidade, lê Machado de Assis sem precisar recorrer a um dicionário e consegue se expressar sem longas pausas para “catar palavras”. Infelizmente, ainda estamos longe do dia em que essa “elite” se tornará um pouco maior; temos é dado largos passos para trás. No momento, ainda temos que nos preocupar primeiro em aprender concordância verbal e evitar os barbarismos. “Intendo”!

    Um abraço!

  35. José Ramalho disse:

    O novo site da Veja está com falhas. Não é possível acessar a revista da semana. Enviei três e-mails para a seção comentário da notícia sobre o novo site. Mas a revista não publicou nenhum. Nenhuma resposta, apenas censura.

  36. Green Yolk disse:

    Denis, admiro sua simplicidade.

  37. Monica L. disse:

    Quando eu cheguei pra fazer faculdade aqui nos EUA, tive aula de ingles com uma professora que viveu no Brasil por dois anos. Logo no comeco, ela ja explicou, “aqui a nos escrevemos diferente do que no Brasil”. E eu com aquela cara de “Como?” E ela explicou, “aqui nos nao usamos floreamento. Somos diretos. Queremos ser entendidos”. Tao verdade! A gente podia ser um pouquinho mais assim no Brasil…

  38. jorji disse:

    O hino nacional é longo demais, exagerado, até hoje não decorei a letra, e não acho que a melodia seja bela, realmente incompreensível. Considero o hino frances e japones os mais belos, também gosto do hino italiano e alemão.

  39. Lendo esse texto eu lembro de uma comemoração do Robinho onde ele olha para a camera e grita para o mundo todo: Por.a! Que finesse, que incrível, que maravilha! Fico muito feliz de ser representado no mundo por um cara, que tendo a oportunidade de falar para o mundo, grita Por.a… Espero que esse cara aqui esteja certo http://www.memedecarbono.com.br/memesfera/politica/a-politica-nas-redes-sociais-online/ e junto com Hitler (http://wp.me/pXSx6-1S) continuo fazendo minha parte (estamos na primeira página da Folha da Vila Prudente desta semana). Abraço.

  40. Anouk disse:

    Oi Denis,
    O Hino Nacional possui um estilo elegante e harmonioso. Se ele nao é entendido por muitos, é sentido por todos.
    Você reclama do mapa que nada informa, do hino que ninguém entende, da falta de consciência social, enfim, você anda de saco cheio. Calma! O mapa pode ser melhorado para facilitar a vida das pessoas, embora brasileiro prefira perguntar a ficar tentando entender mapa em rodoviária. Quanto à lingaugem adotada por A e B para que o cidadao médio fique sem entender, nao é uma característica brasileira. O importante é saber que é assim e ficar esperto para nao ser enganado. Viver é um desafio.

  41. denis rb disse:

    Oi Marcos Filho,
    Desculpe! Confundi mesmo. Li um comentário depois do outro e misturei as respostas.

  42. denis rb disse:

    Não estou de saco cheio não, Anouk, estou fazendo o meu trabalho.

    E não concordo contigo. O poder público tem a obrigação de servir ao cidadão. É trabalho da prefeitura informar com clareza e transparência. Dizer que eles não fazem assim porque o brasileiro é assim mesmo e que temos que nos acostumar com isso, para mim, é um equívoco. Já morei em outros países e sei que não precisa ser assim.

  43. jorji disse:

    O Brasil é o país do anafalbetismo funcional, a maior parte da população não entende o que está escrito numa bula de remédios, escreve errado ( como eu, por exemplo ), a letra dos médicos é horrível, é um povo que lê muito pouco, com baixa escolaridade, com educação formal horripilante ( escola pública ), fala de forma incorreta, impressionante que o nosso pais seja uma potência econômica, num país de analfabetos.

  44. Diogo Fernando disse:

    Não perda esse video http://www.youtube.com/watch?v=l2by-V1JJ7I – Mostra que EXISTE uma letra na Intodução do Hino Nacional Brasileiro que infelizmente POUQUISSIMAS pessoas conheciam; e confesso que eu era um desses.

    Me sinto envergonhado, assombrado, por ter de assumir tal fato.
    Você conhecia Denis?

  45. Anouk disse:

    Oi Denis,
    É claro que o poder público tem obrigacao de servir ao cidadao. Nunca pensei diferente. Se há problemas, os cidadaos deveriam notificar as autoridades e exigir mudancas. Fora do Brasil, há também problemas que dificultam a vida das pessoas, principalmente dos idosos. Quando é assim, as pessoas prejudicadas apontam as dificuldades, notificam as autoridades competentes e o problema é solucionado da melhor forma possível. Se houver mais participacao das pessoas, as coisas mudam para melhor no Brasil também.
    Desculpe-me pela brincadeira. Eu sei que você está fazendo o seu trabalho, um bom trabalho por sinal. Abs.

  46. denis rb disse:

    😉 Imagine, Anouk

  47. Rafael Claudio disse:

    Denis, você deveria procurar saber sobre o DDA, é a solução para os seus problemas de vista heheeh

  48. Ernesto Dias Jr. disse:

    Minha geração, exposta a melhor educação (pública, diga-se) do que a sua, tinha professores capazes de analisar junto conosco a letra do Hino Nacional. E de quebra dar uma belíssima aula de português. Não tenho, portanto, junto com meus colegas de escola, nenhum problema com o Hino. Problemas têm jornalistas de hoje que usam o adjetivo “massivo” com a maior cara de pau, e relegaram o substantivo “desempenho” pelo inefável “performance” em todos os contextos aplicáveis.
    Quanto às placas da prefeitura, o que esperar de gente que não consegue sequer nivelar tampas de bueiros depois de uma recapagenzinha? O sujeito que concebeu a placa está apenas usando a única tecnologia de informação que conhece: a da Internet. Mesmo que seja em uma pliacção que não se pode clicar…

  49. RenanF disse:

    Socialistas e suas manias de nivelar tudo por baixo.

  50. denis rb disse:

    Paranóicos e sua mania de achar que todo mundo é socialista 😀

  51. RenanF disse:

    No no no. Vc defende a pauta da esquerda, sendo ou não esquerdista.

  52. denis rb disse:

    Eu não defendo a pauta de ninguém, RenanF. Defendo a minha. E defendo o meu direito de ter minhas próprias ideias. Totalitário é querer encaixar as pessoas em rótulos. Isso sim é coisa de stalinista.

  53. RenanF disse:

    Tb defendo o seu direito de ter qualquer idéia que seja, não foi essa a discussão.
    O fato é que, ao invés de ensinar as crianças a entender não só o Hino Nacional mas outras coisas de outras áreas do conhecimento, você parece querer rebaixar o conhecimento.
    Em outras palavras, se a matemática, a química, etc, está difícil, solução? Diminuir o nível da exigência do ensino.

    E isso foi uma prática adotada por vários esquerdista neste país, inclusive proibindo a reprovação em alguns estados da federação.

    Mas se vc defende um ponto igual a uma corrente ideológica mas não pertence a ela, ok! acredito, acontece.

    Att,

  54. denis rb disse:

    A questão é que em nenhum lugar eu defendi “rebaixar o conhecimento”, “diminuir o nível de exigência”. Pelo contrário: o que estou defendendo aqui é o oposto. Estou defendendo uma cultura de privilegiar conteúdo, compreensão, em vez de falar difícil sobre o vazio.
    Enfim, vc está atribuindo a mim ideias que eu não tenho. E acho que faz isso por preconceito, só porque você me colocou nessa categoria mental de “esquerdista” e acha que todos os esquerdistas pensam assim.
    Onde é que eu defendi diminuir o nível de exigência do ensino? Onde é que eu defendi a aprovacnao automática?

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