Democracia, do Egito ao Brasil

Quando o século 19 começou, não havia no Planeta Terra nenhuma democracia digna desse nome (naquela época, negros e mulheres eram proibidos de votar nos EUA). Em 1942, só 12 países do mundo eram democráticos, todos eles localizados na Europa ou na América do Norte. A Segunda Guerra Mundial estava no auge. Milhões de pessoas haviam sido mortas, em grande medida por causa da loucura de um punhado de ditadores. Foi aí que ganhou força um certo idealismo, uma convicção da superioridade da democracia e da necessidade de acabar com as tiranias.

De lá para cá, não dá para dizer que não tenhamos tido sucesso nessa missão. Há hoje no mundo cerca de 120 “democracias eleitorais” (aquelas que elegem seus líderes), o que dá 60% das nações da Terra, espalhadas por todos os continentes. O número de “países livres” – aqueles que, além de eleger seus presidentes, respeitam as liberdades básicas e possuem poderes independentes que se contrabalançam – já beira os 90, metade dos governos do mundo (mas bem menos que metade da população, já que a China desequilibra a balança).

O gráfico mostra a quantidade de países "livres" (verde), "parcialmente livres" (amarelo), e "não-livres" (vermelho), segundo os critérios da organização Freedom House

Esse número, que cresceu aceleradamente após o fim da Guerra Fria (quando ditaduras de esquerda e de direita proliferaram pelo mundo com o pretexto de que era o único modo de combater um “mal maior”), parece que está prestes a passar por mais um aumento dramático. Ajudado por ferramentas digitais, o povo foi às ruas na Tunísia e no Egito e derrubou velhos ditadores, e agora quase todas as ditaduras islâmicas estão balançando no pé. Ainda é cedo para saber se o que haverá no lugar dos ditadores será mesmo uma democracia, mas parece difícil acreditar que o povo, orgulhoso pelas vitórias, vá se contentar com muito menos que isso.

Isso é boa notícia, sem sombra de dúvida. Países democráticos são mais pacíficos, mais motivados, têm maiores índices de desenvolvimento humano, mais confiança entre as pessoas, economia mais dinâmica, mais possibilidades de realização pessoal, mais capacidade de inovar do que países autoritários. Apesar de serem aparentemente mais bagunçados, já que estão sujeitos à vontade do povão, a longo prazo eles são na realidade muito mais estáveis, porque têm regras claras, enquanto ditaduras quase sempre entram em crise à beira da sucessão. Ditaduras são caldeirões de frustrações e ressentimentos, cozidos a xenofobia.

Mas essa distinção entre democracia e ditadura esconde o fato de que há muitíssimos cinzas entre o branco e o negro. Há democracias de excelente qualidade, com três poderes independentes se fiscalizando mutuamente, muita transparência, muita responsabilidade, muitas oportunidades para participação cívica. E há outras mais capengas.

A brasileira, por exemplo, se não é das piores do mundo, está bem longe das melhores. Nossas instituições são fracas, o cidadão tem pouca voz, o judiciário é ineficaz, a polícia é corrupta e violenta, o legislativo é refém do executivo, os parlamentares se deram aumento de mais de 60% assim que passou a eleição e o deputado mais votado atende pela alcunha de Tiririca. Enfim, é uma democracia meia-boca.

Longe de mim querer desprezá-la. Ter uma democracia meia-boca é 1 milhão de vezes melhor do que não ter nenhuma – como não tínhamos há duas décadas e o Egito não tem ainda. Mas isso não significa que tenhamos que ficar satisfeitos com o pouquinho que temos – na realidade, a maior das vantagens da democracia é sua capacidade de melhorar, de incorporar contribuições da sociedade. No Egito, as novas tecnologias mudaram o espírito do país: aumentaram os anseios, os sonhos, as expectativas. Será que algo parecido está sendo gestado no Brasil?

72 comentários
  1. Marcelo Azevedo disse:

    Denis,
    Excelente texto. Mas com relação ao último parágrafo, não consigo ver nada parecido sendo gestado no Brasil. Não há mobilização popular para absolutamente nada. Estamos assistindo calados ao espetáculo grotesco de divisão de cargos no Governo Federal por critérios fisiológicos. A mobilização para a lei da Ficha Limpa é o único movimento popular relevante de que consigo me lembrar desde o impeachment de Collor. Como povo, nada estamos fazendo para contestar o status quo. Estamos absolutamente conformados com a situação. Aprovamos nossos governos quase unanimemente, enquanto não sabemos mais em quem votamos para o legislativo nas últimas eleições.
    Gostaria de pensar que estamos progredindo. Mas não consigo ter esse pensamento positivo todo – acho que ainda vamos conviver um bom tempo com nossa democracia meia boca.

  2. Marcelo disse:

    Ora Marcelo Azevedo, e a lei da ficha limpa? E os políticos que terão que devolver aposentadorias indevidas por causa de ações populares? E os portais da transparência? E a marcha da maconha, que a cada ano cresce lutando pelas liberdades individuais neste país? E nós aqui discutindo abertamente e podendo nos organizar como nunca antes?
    O Brasil está mudando sim. O povo está ficando mais esclarecido, aprendendo a lutar por seus direitos, e a popularização da internet tende a impulsionar este fenômeno.

  3. reynaldo moreira disse:

    Ausência de ditadura = democracia. Ausência de totalitarismo = liberdade. Simples assim. Os soldadinhos de chumbo dos EUA dão suas vidas para que a indústria bélica fature bilhões, para que o império explore as jazidas de petróleo iraquianas em condições privilegiadas e conquiste uma posição estratégica entre o Irã e Israel. E o rapazote de dezoito anos vai feliz para o matadouro porque acredita piamente que está defendo os ideais de “civilização”, “democracia” e “liberdade”, assim como o menino-bomba, ao apertar o botão, acha que está indo ao encontro das cem virgens do paraíso muçulmano. Antecipando o coro de Marcelos: “Então você defende o totalitarismo, ô seu esquerdista retrógrado?” Eu não disse isso, ainda não saiu de minha pena um único slogan, não compartilho de unanimidades forjadas, tais como os conceitos de “civilização”, “democracia” e “liberdade” que parecem claros como água ao colunista e aos comentaristas em questão.

  4. Marcelo Azevedo disse:

    Marcelo,
    Reconheço a existência dessas coisas, mas ainda acho que são muito restritas. O movimento no Egito foi massivo, havia uma mobilização generalizada, coisa que não vejo no Brasil. A massa está satisfeita com o status quo, e geralmente esses movimentos partem de pequenos grupos, por exemplo o combate às aposentadorias indevidas que você citou vêm da OAB e de setores da imprensa, no entanto a maioria das pessoas não devolveria o dinheiro se fosse com elas (http://www.gazetadopovo.com.br/vidapublica/conteudo.phtml?tl=1&id=1096431&tit=Eleitor-condena-pensao-especial-para-politicos-mas-nao-para-si). Assim como as marchas da maconha que você citou até já conseguiram apoio de ministro mas não da sociedade em geral. Me parece que o grande motor da mudança, que é a mobilização de grandes massas, não tem clima para acontecer. Por isso minha visão negativista…

  5. denis rb disse:

    Marcelo Azevedo,
    Num país como o Egito, sem nenhuma possibilidade de participação cívica, ir para a rua protestar é o único jeito de ser ouvido. Já passamos por isso (Diretas Já, caras pintadas etc.). Num certo sentido, é de se esperar que, vencida a ditadura e estabelecida a democracia (ainda que meia-boca) e seus mecanismos de representação, haja hoje menos disposição para movimentos de massa. Entendo sua frustração: uma montanha de absurdos acontecendo e a vida segue, passivamente. E concordo com você: falta hoje no Brasil um mecanismo de pressão sobre Brasília.

  6. denis rb disse:

    Discordo, reynaldo,
    Não acho que é isso que eu disse no texto. Ao contrário: fiz questão de frisar que democracias não são todas iguais, que há umas muito melhores que as outras (“muitos cinzas entre o branco e o negro”). Não estou defendendo a imposição da democracia pelas armas nem a hipocrisia americana da Guerra Fria, de apoiar ditadores em nome da democracia. Também não estou repetindo slogans ou comprando as definições ideológicas de “liberdade” e “democracia” (expliquei no segundo parágrafo a definição que adotei). Estou apenas celebrando a libertação de um povo, pelas suas próprias forças.

  7. reynaldo moreira disse:

    E eu só estou indo um pouco mais além ao afirmar que o clima de liberdade de opiniões que a democracia formal costuma fomentar só é o princípio para derrubar diferenças de classe, de fortuna, de status, de poder, que existem em todos os países da atualidade e os torna essencialmente anti-democráticos na base. Enquanto estas diferenças existirem, na minha opinião, não faz sentido em falar em “liberdade” e “democracia” a não ser que se entenda esses conceitos do ponto de vista negativo: ausência de ditadura ao nível governamental. Karl Marx foi banido de vários países, incluso aquele em que nasceu. Desde que se fixou na Inglaterra, era constantemente seguido pelos espiões da Prússia. Um deles comunicou à Scotland Yard que o barbudo agitador e seus comparsas estavam planejando assassinar a rainha. Recebeu como resposta (estamos em meados do século XIX): “ninguém vai preso na Inglaterra por planejar matar a rainha”. Eis como estão seguros os donos do poder no regime republicano “democrático”. Podem falar o que quiser, desde que não pretendam abalar, de fato, as bases profundamente assimétricas de poder em que o sistema está assentado.

  8. Fellows disse:

    Eu vejo a democracia participativa como uma evolução natural da democracia representativa. Na verdade um retorno às origens. No àgora de Atenas todos (menos escravos, mulheres) votavam se iam ou não à guerra e decidiam desta forma diversas outras questões.
    Hoje a tecnologia já permite a participação de todos. De forma segura e eficaz. Vide por exemplo a abrangência e rapidez da apuração dos jogos da megasena. Certo que tenho algum receio que algum showman, algum tiranete, use-a para manipular as massas e justificar suas sandices. Ou pior, suas cretinices.
    No entando já sabemos que Nova Zelandia, Inglaterra e Suiça já possuem grupos se organizando e agindo nesta direção: Buscando a participação popular para referendar decisões a nivel local, regional ou nacional.
    Acredito que em breve esta “nova” onda toma consistência e chega por aqui.

    Abs.,
    Marcelo

  9. Luna disse:

    Denis… o seu regozijo pela democracia nao consegue me contagiar.
    Um romantismo infantil tao grande envolve a palavra “democracia” que nos faz suspirar fundo e dizer: “esse agora e’ um pais democratico”, enquanto a verdadeira liberdade continua negada aos cidadaos comuns, mascarada pelo direito de comsumir “junk” e trabalhar como um burro de carga. Direito ao voto, em um bipartidarismo como temos aqui nos USA, nos deixa sem opcao de candidatos. Ai no Brasil, existe o famoso jeitinho brasileiro, o qual e’ justamente condenado, mas que de certa forma relaxa um pouco a cadeia invisivel que cincunda o individuo. Por aqui existe a sacanagem legalizada, a qual massacra o cidadao comum, razao pela qual esse pais esta’ em crise. O pequeno e’ um marionete perdido no sistema. Acorda, levanta, trabalha…acorda, levanta, trabalha…ficou doente? Azar dele.
    O sistema muda, o controle continua. O maior dos sonhos, creio impossivel, seria educacao real da populacao para que essa soubesse votar e cobrar dos eleitos o trabalho que eles devem ao povo e pelo qual sao pagos. Todo governo deveria ser obrigado a publicar a sua agenda e deveriam existir sistemas claros de controle e prestacao de contas em todos os niveis de governo, e que o individuo tivesse acesso a tais informacoes em sua comunidade a hora que quizesse. Sera’ isso possivel?

  10. Luis disse:

    Ver o que aconteceu no Egito foi bonito, essa é a palavra de sentido mais completo quanto o que vi. A mobilização, que poderia (como houve) causar morte, aconteceu porque a vontade de um governo democrático era compartilhada entre os protestantes, havia sinergia, emoção… Quanto o Brasil, que foi posto em questão nos posts vejo que o país poderia ser melhor com mudanças simples e progressivas, talvez a aclamação por reforma política apenas fique adiando possíveis mudanças. Parece simples, basta testar em escala menor, por exemplo: em geral, os vereadores não são tidos como bons “representantes”, basta eliminar essa função e adotar uma nova forma de decisão popular, democracia participativa…

  11. Marcelo Azevedo disse:

    Sempre as mesmas reclamações sobre o sistema, massacre, massificação, etc. Só precisa contar isso aos habitantes dos EUA, que segundo a pesquisa anual do instituto Legatum fazem parte do 10o. país mais feliz do mundo, com ampla confiança em suas instituições. Coincidentemente, um expoente da democracia. Ah, do 1o. ao 9o. também são grandes democracias capitalistas.
    Dá para melhorar? Dá sim, bastante. Mas só se melhorarmos cada vez mais nossos sistemas democráticos, em todo o mundo, para eliminar as discrepâncias que ainda temos. E nesse aspecto, o ocorrido no Egito é sim um alento para a humanidade no sentido de melhorar a qualidade e a quantidade de pessoas inseridas em regimes democráticos no mundo.

  12. reynaldo moreira disse:

    Então porque o tal instituto Legatum constatou que as pessoas em regimes democráticos são mais felizes, com base em critérios científicos que determinam com a máxima precisão o que constitui felicidade, não existe padronização, massificação, exploração do homem pelo homem, fetiche da mercadoria, concentração de renda causando assimetria de poder na base social, coisificação das relações humanas, etc., etc. De repente, por milagre, só porque ao nível governamental não existe ditadura, todas essas características do sistema desaparecem por milagre. Aliás, não existe essa coisa de sistema, o sistema comunista primitivo dos povos indígenas é idêntico ao europeu medieval que é idêntico ao mercantilista que é idêntico ao capitalista, todas essas diferenças são criadas pela mente ideológica de milhares de estudiosos das ciências humanas pelos quatro cantos do planeta, correto mesmo é o Marcelo de Azevedo com seu instinto infalível, fundado no senso comum. Uma proposta: vamos jogar toda essa literatura pseudo-científica no lixo, que tal?

  13. Marcelo Azevedo disse:

    Desculpe, Reynaldo, mas um cara estudado como você deveria enxergar com clareza a diferença entre o feudalismo, o mercantilismo, o comunismo e a democracia capitalista, sobretudo no que diz respeito ao acesso de cada vez mais pessoas aos meios de produção e de consumo (credo, palavra nojenta). Como eu disse, temos muito a melhorar ainda, mas até o momento o sistema de democracia capitalista é a melhor coisa que concebemos em termos de organização social.
    Mas tudo bem, quer desqualificar a mensagem, desqualifique o mensageiro, devo ser desinformado e ignorante mesmo.
    Sou eu o Dom Quixote solitário que enxerga “conspirações de gibi” (adorei essa expressão do Denis) nos moinhos-de-vento (de mentes) da cultura de massas…

  14. reynaldo moreira disse:

    Enxergo a diferença entre os sistemas mas não em termos de valoração, e por isso não estou de forma alguma convencido, pelo que vejo e pelo que leio, de que “a democracia capitalista é a melhor coisa que concebemos em termos de organização social”. Isso só parece claro a Churchill, Reinaldo de Azevedo e outros espertalhões. Já Darcy Ribeiro e os Villas Boas, grandes humanistas, experientes antropólogos, chamavam a atenção para um dado interessante das tribos brasileiras isoladas que visitaram, nas décadas de cinquenta ou sessenta. Nelas, ninguém aceitava ordem de ninguém pois não havia uma situação social de poder cristalizada, institucionalizada, a partir da qual uma pessoa possuía o direito hereditário e inconstestável de dizer para outro, seu “inferior”: “faça isso ou aquilo para mim, isto é uma ordem”. Se alguém tentasse, levaria como resposta uma sonora risada. Nunca viram uma criança sendo espancada e raramente sendo repreendida com firmeza, sempre por algum motivo palpável e não em virtude de um surto de uma mãe histérica. Nesse aspecto (preste bastante atenção agora, estou dizendo, NESSE ASPECTO), esses “brutos” e “primitivos” estavam muito mais adiantados do que nós. Agora, fique parado às oito da manhã em frente à saída do metrô Anhangabaú. As crianças de rua que cheiraram cola durante a noite toda nesta hora estão dormindo debaixo dos cobertores, meninas, meninos, adolescentes, tudo misturado, “que nem bicho de monte”. Os Guardas Civis chegam e dão um chute ou um grito para que essa massa indiferenciada acorde e limpe a área para gente de verdade transitar. Os passantes, aos milhares, apressados para chegar ao trabalho, ignoram a cena soberbamente, a tal ponto que parecem nem estar vendo. Eu, abismado, chego a imaginar que são zumbis. Ora, ora, penso que existe algo de profundamente errado com uma sociedade que trata assim suas crianças. Em cidades do sertão mineiro onde ainda predominam sitiantes, na zona rural, ou seja, aquelas mais “pobres”, como Minas Novas, Chapada do Norte ou Berilo, eu nunca vi uma criança abandonada nas ruas. Também não há pedintes. Outras, mais “ricas”, como Araçuaí ou Medina, onde já existem fazendeiros ou que são cruzadas por grandes rodovias, você vai encontrar facilmente meninas de dez ou doze anos se vendendo na “pista”. Faça-me o favor de me apontar um só caso de pedofilia na literatura antropológica relativa a tribos isoladas, considerando que as crianças aí andam nuas e podem ser facilmente levadas a uma situação de abuso. Todas as sociedades produzem e consomem, eu também consumo e só não tenho nojo do que consumo porque sou bastante atento para que um mestre da propaganda não me venda gato por lebre. E sou assim porque o consumo de cultura de qualidade me tornou imune a esta e outras armadilhas muito comuns nesse “melhor do pior dos mundos” que se tornou seu ideal provavelmente porque você desconhece outros ou os enxerga com um olhar enviesado. Não desqualifiquei sua pessoa, Marcelo, não te chamei de forma genérica de ignorante. Eu sou totalmente desinformado a respeito da física quântica, portanto, não emito opiniões dentro desse campo de conhecimento.

  15. Marcelo Azevedo disse:

    Reynaldo,
    Claro que há algo de errado em sociedades que fazem isso com as crianças. É esse tipo de coisa que há de se corrigir. Jamais conseguirei discordar de você nesse aspecto.
    Tive a oportunidade de visitar a Suécia. Lá, não se faz isso com as crianças. Lá é uma democracia capitalista. Acho que as raízes do problema tem menos a ver com o sistema e muito mais com a ausência de Estado…
    Nem vou desenvolver seu comentário relativo à pedofilia por ser extremamente preconceituoso ao atribuir a culpa de sua existência ao sistema. Aí teríamos de investir na definição do conceito de infância nas sociedades, o que começa a fugir demais do tema.
    Veja, a democracia ainda tem muito a evoluir como prática, mas em teoria é um sistema excelente. Não há superiores e inferiores. Temos todos direito a um voto e o mesmo peso na determinação dos rumos da sociedade e na montagem do Estado. Há pessoas que detêm meios de produção e outras que querem produzir, elas entram em um acordo (contrato de trabalho) para gerar lucro para ambos. O Estado tem o papel de regular essas relações sociais e manter o equilíbrio da balança do poder. No Brasil, estamos longe disso. Mas em outras democracias capitalistas mais avançadas, as coisas funcionam muito bem e as pessoas estão satisfeitas. Então, por que preciso me espelhar nas sociedades indígenas, se há sociedades capitalistas bem melhores, e que ainda contam com todos os confortos tecnológicos que a humanidade conseguiu produzir?

  16. Fellows disse:

    Concordo com meu xará quando lembra a evolução que o Portal da Transparência já traz. Acho bacana, mas quero mais. Quero participar das decisões e teimo, já existe tecnologia para isso. Falta vontade política, ou uma pressão do tipo Praça Tahrir.
    Como dizia o poeta, “quem sabe faz a hora, não espera acontecer”.

    Abs.,
    Marcelo

  17. reynaldo moreira disse:

    Se não há pedofilia entre indígenas isoladas, conforme ensina uma vasta literatura, e há na maioria das democracias mais “avançadas” e se em todo lugar impera a mesma “natureza humana”, só posso atribuir o problema ao sistema, não por preconceito, mas por constatação. Conforto tecnológico não é um ideal em si e não é suficiente para tornar uma sociedade tecnológica “bem melhor” do que outras, mais “atrasadas”. Vejo hoje, por exemplo, muita gente conversando banalidades no Orkut com milhares de “amigos” virtuais e que não consegue dar um “bom dia” à moça que atende o balcão na padaria. No meio sertanejo conheci crianças de três anos de idade capazes de reconhecer dezenas de pessoas de seu ciclo real de relacionamento. Por outro lado, vi uma estatística dizendo que metade dos habitantes atuais da ilha de Manhatan são solteiros que vivem sozinhos em suas casas e acredito que muitos deles não possuem um único amigo de verdade, daqueles com quem podemos desabafar num momento ruim, sem medo de que nossos pesares sejam depois banalizados e espalhados aos quatro ventos. Você vê a relação patrão e empregado como uma relação de colaboração, eu vejo como uma relação de exploração, colaboração seria se toda a riqueza produzida (e ela é produzida pelas mãos do trabalhador) fosse dividida em partes iguais. A Suécia tem um dos maiores índices de suicídio do planeta, e durante muito tempo foi a campeã nessa corrida macabra. Conheço uma brasileira que vive há anos na Dinamarca e não suporta mais tanta caretice, tanta perfeição, tanta limpeza, tanta ordem, tanta regra, tanta frieza nas relações humanas. Está doida para voltar e vai voltar, mas constituiu sua vida lá e mudar não é fácil, mas pelo jeito prefere o caos de São Paulo ou Rio de Janeiro onde, aparentemente, as pessoas estão mais vivas.

  18. Marcelo Azevedo disse:

    Reynaldo, não sou indigenista, então se você me diz que não há pedofilia entre índios eu acredito. Atribuir isso ao sistema é falácia: há muitos outros fatores em jogo, religião, genética, etc etc. A ciência não sabe por que existem pedófilos. Você está apenas especulando.
    Não discordo de você com relação à frieza das relações humanas que você pontuou com muita propriedade. Continuo achando que nada disso tem necessariamente a ver com o sistema. O sistema vigente é assim desde o início do século XX, mas o problema das relações humanas é bem mais recente. Também acho especulativo atribuir o problema ao sistema econômico (que influencia, mas não determina, a organização social de um povo). Agora, quando você fala das relações patrão-empregado, aí entramos em um ponto ideológico no qual nunca vamos concordar. O trabalhador precisa dos meios de produção que ele não detém. Alguém precisa viabilizar economicamente o trabalhador. Além disso, eu não acredito na divisão em partes iguais da riqueza, onde foi tentado esse sistema nunca funcionou (exceto, talvez, em pequenas comunidades indígenas. Mas presumo que tais comunidades não dividiam seu pão com membros de comunidades vizinhas… Como disse, não sou indigenista.). Acredito na divisão com base no esforço de cada um.
    Sonho com o dia em que não haverão grandes corporações nas mãos de poucas pessoas, mas sim que todos seremos acionistas de várias empresas, dividindo os lucros de forma mais uniforme ao longo da sociedade; e que o pequeno empreendedor tenha um ambiente de negócios favorável e possa produzir por si só, se assim quiser. Uma sociedade assim me parece muito mais livre e muito mais justa.

  19. jorji disse:

    A verdade é a realidade, a realidade é biológica, a partir do momento que os humanos passaram a evoluir de forma que conhecemos, apesar desse extaordinário evento, biologicamente somos iguais aos animais, por questão de auto sobrevivência, a maioria das espécies tem regimes ditatoriais ( a lei do mais forte ), como exemplo até os chipanzés são assim. Regimes democráticos consolidados são de povos mais evoluídos, é uma questão de escala, quanto mais um povo de uma determinada nação são eruditos e cultos, melhor é o regime democrático, o indivíduo é mais livre, sabe pensar, entende o que é direito e obrigação, enfim, democracia é sinônimo de inteligência.

  20. reynaldo moreira disse:

    Não existe nada que nos diferencie biologicamente dos povos indígenas. Portanto, se algo existe entre eles e não existe entre nós, só pode ser em virtude do sistema. Ou então você acredita que somos biologicamente diferentes e aí eu te peço para provar essa teoria. Até que nível o sistema determina as ações do indivíduo, dependendo da sociedade? Sugiro que releia um comentário que fiz antes a respeito do livro “Crônica dos Ìndios Guayaqui”, de Pierre Clastre, se lembra? Poderia citar uma centena de outros. O grande mestre Levi Strauss chegou ao ponto de dizer que até os sentimentos são determinados socialmente. Deve ter suas razões para afirmar isso, não acha? Procure se informar. Ora, repito, os índios Guayaqui acreditavam que deveriam matar uma criança do sexo feminino toda vez que morresse alguém de prestígio na tribo. Assim ele poderia ser guiado por uma alma pura até o mundo dos mortos, caso contrário vagaria como um fantasma, causando danos aos vivos. Essa prática determinava que uma mulher se casasse com pelo menos três homens. Isso não os satisfazia, claro, e para a sociedade não implodir surgiram rituais que expurgavam o conflito. Se usassem a mais básica razão, se os rumos da sociedade fosse determinado por escolhas pessoais, pensariam: “basta parar de matar as meninas que haveria esposas para todos e a tensão entre os homens acabaria”. Mas ninguém pensava assim pois seria o fim da estrutura social que mantinha todos vivos, seria o fim da sociedade organizada tal como eles conheciam desde tempos imemoriais. Assim os soldados americanos preferem morrer no campo de batalha a acreditar que as idéias de “democracia” e da “liberdade” para as quais estão se sacrificando na verdade são apenas os mitos fundadores de sua sociedade. As pessoas preferem morrer a ver o solo ideológico de suas vidas ruirem. Assim você, Marcelo, não consegue imaginar um mundo diverso do que vive, não consegue imaginar um mundo onde não haja relações patrão-empregado, para você essa relação é eterna, imutável, fruto de uma suposta “natureza humana” que se manifesta em seu estado mais puro no Capitalismo. Você sonha com “o dia em que não haverão grandes corporações nas mãos de poucas pessoas, mas sim que todos seremos acionistas de várias empresas, dividindo os lucros de forma mais uniforme ao longo da sociedade; e que o pequeno empreendedor tenha um ambiente de negócios favorável e possa produzir por si só, se assim quiser”. Seu pensamento não consegue escapar dos limites impostos pelo sistema. Já que está sonhando, porque não sonhar com um mundo sem “empresas”, “empreendedores”, “ambientes de negócios”? Esses termos não teriam o menor significado para Luís XV ou para o cacique Aritana antes do encontro com os Vilas Boas. Portanto não são realidades eternas, imutáveis, muito menos ideais. Vaca profana, põe teus cornos, para fora e acima da manada.

  21. jorji disse:

    Tudo, absolutamente tudo, é biológico, os rituais de sacrifício já fizeram parte de todas as civilizações, ainda existem, inclusive em povos desenvolvidos ( homens bombas, por exemplo ), todo sistema foi moldado pelo biológico, tudo é para mantermos como espécie, inclusive o sistema democrático, até criminosos em geral como psicopata é biológico ( formação do cérebro ),seguimos as leis da natureza, entendo que é extremamente difícil para a maioria aceitar que somos apenas mais uma espécie de ser vivo, que a sociedade que edificamos foi em função da evolução, que a diversidade de sistemas tem o mesmo objetivo, a sobrevivência.

  22. denis rb disse:

    Só abro a boca para bater nos comentários do reynaldo, então desta vez me sinto na obrigação de elogiar. Belíssimo comentário, caro. A imagem de um povo incapaz de ver além de seu próprio contexto social é linda.
    Mas (e sempre há um mas) permita-me levantar a possibilidade de que talvez você também esteja tendo dificuldade de enxergar “acima da manada”. Ou melhor: você enxerga além da nossa manada “capitalista”, mas só o que você vê é uma outra manada lá adiante: o que foi experimentado por sociedades “primitivas” [sic] ou o que foi imaginado por autores da “esquerda”. Você combate a ideia de que devam haver “empresas”, “empreendedores”, “negócios”, com a justificativa de que nada disso faria sentido para Luís 15 ou Aratana, mas é bom lembrar que também o rei e o cacique estavam com seus pescoços enfiados em suas respectivas manadas. Por que o sonho do Marcelo Azevedo não pode ter empreendimentos e empreendedores se ele acha que essas coisas são boas para o mundo? Por que não podemos, cada um de nós, sonhar seu próprio sonho, desde que ele não implique em suprimir os sonhos dos outros? Há no mundo empreendedores imensamente transformadores, capazes de impactar profundamente as coisas, de maneira positiva. Por que temos que necessariamente excluí-los do nosso sonho?

  23. denis rb disse:

    Nem tudo é biológico, jorji, isso está claro até mesmo para os biólogos. Nem tudo é cultural tampouco, como os sociólogos e psicólogos estão descobrindo. Chegamos ao mundo equipados com um código genético que é imensamente complexo, mas o ambiente cultural nos molda de maneira inegável. Essa compreensão de que nem a cultura nem a natureza nos explica inteiros é hoje praticamente uma unanimidade científica e é uma das áreas mais fascinantes do conhecimento humano. Tive a sorte de ser aluno do Robert Sapolsky, um biólogo americano que se dedica a compreender como cultura e natureza, juntas, moldam nossa humanidade. Sapolsky tem ideias interessantíssimas sobre a origem biológica de comportamentos tidos como culturais. Mas ele também tem plena consciência da existência da individualidade e da cultura, entre humanos ou não. Ele viveu anos com os babuínos na África e costumava dizer que “alguns babuínos simplesmente tem mal caráter”.

  24. Walter disse:

    O Século 19 começou em 1801 e o Século vinte começou em 1901,
    então no texto, não seria melhor colocar o início do século 20?

  25. jorji disse:

    Denis, o que eu penso é que o fator biológico é que criou as culturas, é óbvio que os humanos tiveram que se adptar ao meio ambiente em que escolheram para viver, criando culturas diferentes. Em relação ao mau caratismo, seja de babuínos ou humanos, a explicação está no complexo funcionamento do cérebro, por isso considero errado julgar as pessoas, não importa o que façam, mas que a justiça tem que ser implacável, diante de um crime por exemplo. Voltando ao assunto “democracia”, em relação ao Egito especificamente, penso que seja muito difícil a democracia naquela região, na minha concepção democracia está ligado fundamentalmente no grau de desenvolvimento dos indivíduos que compõe determinadas sociedades, quanto maior o conhecimento e cultura, maior é a determinação pela “liberdade”. Incluo na questão da democracia, as outras espécies também, o”direito” à vida, será que estou ficando doido?

  26. Marcelo Azevedo disse:

    Se eu puder amarrar ainda mais com os comentários magníficos do Denis, diria que o comentário a respeito da soma dos fatores biológicos e culturais no comportamento humano mata a história da pedofilia atribuída ao sistema. Por menores que sejam, existem sim diferenças biológicas entre nós e os indígenas, no mínimo as que determinam a cor da pele e formato dos olhos. Se também determinam comportamentos, não sei, não posso afirmar nem refutar, mas acho que não há nenhuma base científica ou antropológica para atribuir pedofilia à existência do sistema democracia + capitalismo.
    Com relação à visão acima da manada, é claro que não sei exatamente o tamanho da minha miopia, pois eu vejo o que eu vejo. Mas quando tento olhar acima da manada capitalista, vejo experiências socialistas extremamente mal sucedidas, e vejo sociedades “primitivas”, que funcionam bem em pequena escala, mais ou menos como funcionam nossos núcleos familiares modernos, mas não funcionam com sociedades de milhões de pessoas nem estimulam a criatividade e a inovação.
    Falo em melhorar o sistema existente porque é o que consigo ver, é com o que consigo sonhar. Não consigo conceber um sistema melhor. Ainda não vi uma proposta de um sistema totalmente novo que seja factível. Por que não, então, buscar melhorar o sistema existente? Não acho que eu esteja preso aos limites do sistema. Acho que, enquanto não vejo alternativa para o sistema, procuro idéias para melhorá-lo, de acordo com o seu funcionamento.

  27. reynaldo moreira disse:

    Denis, só citei os exemplos de outros modos de vida, como os que modelaram sujeitos tão diversos quanto Luis XV e Aritana, porque existe uma grande dificuldade entre certos leitores de compreender a influência profunda das estruturas culturais na formação do indivíduo, e fiz assim para deixar claro que o sistema, e características suas como o conforto tecnológico, não são eternos e imutáveis, ou seja, existiram outros modos de vida, moldando formas as mais diversas de “individualidade”. A visão puramente biologista não é nada mais do que a individualista: segundo ela, as pessoas seriam pura e simplesmente o fruto das determinações de seu ser biológico individual. Sabemos que a base da cultura humana, a proibição do incesto, é justamente uma quebra vantajosa sobre imperativos biológicos. Agora, é óbvio que somos seres biológicos e que nossas vidas também são determinadas por nossas características biológicas. Acontece que até nossos cérebros estão impregnados de cultura. A linguagem é uma característica dos corvos e dos chimpanzés, não resta dúvida, mas é no ser humano que ela alcançou níveis muito avançados justamente por uma intensificação das trocas simbólicas dentro de esquemas culturais, a tal ponto que existem em nossos cérebros amplos setores dedicados à linguagem. Assim, uma característica cultural (a capacidade de manipular símbolos desenvolvidos socialmente) se tornou parte de nossa “biologia”. O mesmo se pode dizer da faculdade artística, se não me engano, típica apenas da espécie humana (a não ser que se entenda que o João de Barro emprega conscientemente critérios estéticos na construção de sua casa). O fato de haver um babuíno cafajeste é prova do grande avanço cultural desta espécie. Um leão não pode ser um embusteiro ou um assassino, ele simplesmente vai lá e mata o antílope para se alimentar, depois vai deitar na sombra e dormir, coitado, sem níveis de relação muito complexos, acima das determinações culturais. Portanto, não estou sendo simplista a ponto de dizer que somos seres puramente culturais, o que significaria dizer que somos autômatos, reproduzindo apenas de forma mecânica as grandes estruturas simbólicas que formam uma teia cultural imanente a nossas existências individuais. Estou apenas tentando enfatizar a importância das determinações culturais, o que não costuma se feito pelo senso comum. Agora, o sonho comunista é extremamente difícil de ser realizado justamente porque a maioria das pessoas está de tal modo mergulhada em sistemas determinados que o consideram uma impossibilidade em termos humanos. Não é uma impossibilidade prática, isto não, pois a humanidade já viveu por milênios em estado de comunismo primitivo, ou seja, numa sociedade sem classes, onde ninguém poderia impor sua vontade sobre outro a partir de posições cristalizadas de poder, por exemplo, um clero, um governo ou um exército profissional. Eu creio que essa base antropológica do comunismo primitivo pode ser o fundamento de sociedades sem diferenças de classe e avançadas, não apenas tecnologicamente mas culturalmente e afetivamente avançadas. Difícil? Sim. Improvável? Sim. Impossível? Não. Só estou propondo que pensemos um pouco além dos horizontes propostos pela sociedade em que vivemos, daí o “por os cornos acima da manada”. Você é um sujeito pragmático e tem todo o direito de sonhar dentro de limites pragmáticos. Muito bem. Eu tenho o direito de propor ao leitor desses comentários que tente enxergar além desses limites. Tudo o que estou fazendo é uma proposta de pensamento. Ideal difícil? Improvável? Sim. Impossível diante de uma suposta “natureza humana” egocêntrica, competitiva, individualista, bélica? Não, não concordo. Mas a criança é egocêntrica e competitiva! Por isso que a vida em sociedade em geral consegue tirá-la deste estado, sem o que não haveria vida em sociedade. É só isso, quem está lendo decide por si se estou certo ou não. Pregar na minha testa o rótulo de comunista retrógrado de tendências ideológicas autoritárias, que tenta impor seu sonho à força à humanidade é depreciar meu pensamento. Por favor, Denis, não faça mais isso, eu já provei o bastante que não mereço.

  28. jorji disse:

    O Brasil é uma democracia meia boca, uma baderna, com 75% de analfabetos funcionais não poderia ser diferente.

  29. Marcelo Azevedo disse:

    Posso estar errado, mas entendo que o comunismo primitivo não aconteceu em grandes sociedades, mas apenas em pequenos grupos, como se fossem as famílias (clãs) de antigamente. Nessas comunidades, provavelmente não haviam estruturas de poder, mas também não havia uma relação com outras comunidades separadas. É bem mais fácil controlar 20, 100 pessoas, do que controlar 100 mil, 200 mil, um milhão. A medida em que os grupos aumentam, é necessário que a organização social que a sustenta seja cada vez mais complexa, e sou realmente muito pragmático para acreditar que tal comunismo seja possível com tanta gente no planeta. Afinal, assim como os babuínos, há seres humanos que simplesmente são cafajestes, facilmente controláveis em pequenas comunidades mas que podem melar tudo se eventualmente se juntassem em quadrilhas criminosas que queiram corromper o sistema.
    Além do mais, acho que não dá para negar que a competição foi responsável por gerar a inovação tecnológica que nos dá tantos confortos dos quais ninguém mais pensa em abrir mão.
    Acho seu pensamento utópico, reynaldo. E sei que a realidade já jogou por terra diversas utopias bem-intencionadas, inclusive a da revolução proletária de Marx.

  30. denis rb disse:

    reynaldo,
    Não estou fazendo isso. Não estou te chamando de “comunista retrógrado etc”.
    Explico. Você diz que “o sonho comunista é extremamente difícil de ser realizado justamente porque a maioria das pessoas está de tal modo mergulhada em sistemas determinados que o consideram uma impossibilidade em termos humanos”. No meu caso (e só posso falar por mim), te garanto que não é isso. Eu simplesmente não gosto do sonho comunista. Acho chato. Não me interessa viver nesse sonho.
    Humanos são seres sociais. Seres sociais são sempre hierárquicos, e quanto mais complexa a sociedade mais complexa a hierarquia. Não acho que as tais “sociedades primitivas” (double sic) fossem “sem classes”. Havia lá sim uma complexa hierarquia, assim como há em todos os símios sociais, inclusive os babuínos que citei (boa parte da vida deles é dedicada uma batalha sutil para estabelecer quem é alfa, beta… ômega). Como meus antepassados, gosto de competir. Não quero viver sem competir. Gosto de criar coisas novas (empreender?). Gosto de desobedecer. Gosto de agir por minha própria conta e risco. Enfim: não me interessa viver no teu sonho.
    Gosto de sonhar. Mais do que isso: acho que sonhar é fundamental para planejar futuros possíveis (acho também que a humanidade chegou a esse beco sem saída nos últimos 50 anos justamente porque esqueceu-se de sonhar, em nome do pragmatismo do qual você agora me acusa). Mas quero que você entenda o seguinte: o teu sonho não é o meu sonho. O que para você é sonho para mim é chato (e muito provavelmente vice-versa). O que é ótimo, já que o futuro não deve mesmo ser nem o meu sonho nem o seu, mas a consequência possível dos atos de 7 bilhões de pessoas sonhando.

  31. denis rb disse:

    Oi Walter,
    Não, eu me refiro mesmo ao início do século 19 (1801), antes de os Estados Unidos instituírem uma verdadeira democracia eleitoral, quando nenhum país da Europa podia ser classificado como democrático. Naquele tempo, há apenas 210 anos, havia zero democracias no mundo. Entre 1801 e 1942, esse número cresceu, mas não muito: surgiram apenas 12 democracias. E hoje há dez vezes mais que isso (de qualidades diversas).

  32. Fellows disse:

    Voltando à Africa e ao efeito dominó provocado pelos eventos iniciados na Tunisia (e talvez ainda antes, no próprio Egito), imagino que não há como discordar da importância que a inovação tecnológica teve para alavancar este processo, democrático e libertário.

    A possibilidade de se criar de um jeito fácil, rápido e seguro, conexões e redes entre afins, foi determinante para este sucesso.

    Então continarei insistindo, se a evolução tecnológica serve para provocar a construção da democracia, porque não vai servir para seu aperfeiçoamento, permitindo maior participação popular nas tomadas de decisão que dizem respeito ao bem comum ou a rés pública.

    Agora chegando ao Brasil, porque não exigimos o exercício do artigo primeiro de nossa consituição. Só para lembrar:

    Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.

    Abs.,
    Marcelo

  33. reynaldo moreira disse:

    Não existiam machos alfa nas sociedades primitivas sem classes, esse modelo dos símios não se aplica aos humanos. Nenhum homem em idade adulta possuia, nessas sociedades, o direito de dizer ao outro o que fazer ou não, a não ser em situações excepcionais, como uma guerra, quando se elegia algum estrategista habilidoso para comandar. Alguém poderia até querer, mas encontraria tão forte oposição, que não conseguiria. Depois da guerra, esse poder desvanecia porque todos tinham poder, na vida cotidiana. Agora, o que acontece com as sociedades hierarquizadas? Eu me chamo Dom Pedro II e gostaria de ter sido simplesmente um artista e botânico amador, mas nasci como o Imperador do Brasil e, apesar de não ter a mínima propensão para o comando, tive de liderar milhares de funcionários e soldados. Um dos meus soldados, ao contrário, líder nato, agressivo e de visão estratégica, tinha que obedecer sem contestação ao imperador bundão. Gilmar Mendes é um arrogante vaidoso mas nasceu numa família de juristas, estudou leis e só por isso está habilitado a determinar o destino das pessoas e instituições que se submetem a seu julgamento no Supremo Tribunal (que nome pomposo, Santo Deus!) Já o sertanejo meu amigo, Seu Francisco, aos oitenta e cinco anos de idade, um dos homens mais justos e sábios que já conheci na vida, é pobre, analfabeto e a ele socialmente não é dado o direito de opinar a respeito do conflito de ninguém contra ninguém. Meu nome é Pelé, nasci preto e pobre mas me tornei “branco” por ter-me tornado rico e famoso, o mundo inteiro me respeita como Bill Gates simplesmente porque fui um excelente jogador de futebol. José, o “Galego”, é branquinho da Silva mas é miserável e desconhecido, e tomou uma bela surra da polícia, que só não foi mais pesada porque não era um “criolo safado”. Esses policiais, pretos e pobres, não são piores ou melhores do que José Galego mas só porque o estado lhes dá uma arma e um uniforme, estão sempre com a razão pois quem tem o poder tem a razão. Sociedades sem classes são aquelas em que o poder não está institucionalizado e isso acontecia nas sociedades em estado de comunismo primitivo. Meu sonho é um mundo em que cada um se situe em relação aos outros conforme suas faculdades efetivas e não aquelas herdadas de estruturas cristalizadas que atuam no sentido de desfocar as habilidades e os poderes inatos das pessoas. Não vejo porque essa sociedade seria mais chata do que aquela em que vivemos, de ruas padronizadas, desumanizadas, ambientalmente desconfortáveis, cheias de gente estressada, obrigada a gastar a parte essencial de seu tempo de vida em trabalhos enfadonhos só porque isso lhe garante prestígio e dinheiro para comprar (não produzir com as próprias mãos) produtos padronizados, desvitalizados, muitas vezes envenenados, porque quem os produz não está interessado em satisfazer o consumidor ou fomentar sua saúde física ou mental mas apenas aumentar o lucro e com o lucro aumentar o ritmo de produção em massa do lixo desvitalizado que oferece a um público crescentemente massificado. Lucro gerando massificação que gera lucro que gera estupidificação que gera lucro. Tudo isso é realmente muito divertido. Você gosta de competir, eu gosto de colaborar e acredito que na colaboração de faculdades reais as mais diversas pode-se produzir um mundo muito mais profundo e excitante do que na competição para produzir a arma mais letal e eficaz na carnificina, como ocorre, por exemplo, no seio da indústria bélica sueca ou norte-americana. Você gosta de criar no sentido de empreender? Eu gosto de criar no sentido de criar apenas por criar. Você é capaz de criar alguma coisa do nada, por exemplo, um pote de cerâmica com alguma decoração básica, apenas pelo deleite de olhar para ele pronto e dar de graça para um dos melhores amigos? Quantas pessoas de seu ciclo de relacionamento você conhece, Denis, que são capazes de criar algo, que o seja plantar um pé de couve para vê-lo crescer e dar frutos, só pelo prazer de apreciá-lo e comê-lo, dividindo o que sobrou? Quantas pessoas você conhece capazes de, do nada, inventar uma canção? Porque não? Na folia de São Sebastião desse ano algum dos sertanejos, ninguém sabe quem foi, inventou uma cantiga que foi um sucesso durante o percurso dos foliões e na festa final do padroeiro. Ela dizia, simplesmente: “oi ti tchi tchi tchi tchi tchi, oi tcha tcha tcha tcha tcha, a fulia tá girano e pru ano torna a voltá”. Qualquer um dos foliões tem muito naturalmente essa ousadia de criar uma “inutilidade”, não por prestígio, não por status, não por dinheiro, mas pelo simples prazer de tirar do limbo algo muito singelo e cativante e dividi-lo com seus “iguais”. Acho esse mundo muito mais divertido, Denis. Pode ficar com o seu.

  34. denis rb disse:

    Ah, sim, reynaldo, tem muitas pessoas nas minhas relações capazes de criar coisas só pelo prazer de criar. E concordo sim com o ideal de um mundo onde potenciais têm liberdade de se desenvolver. Discordo só num ponto: e quem tem potencial de empreender coisas? Esse cara não tem o direito de desenvolver seu potencial? Quanto às sociedades “primitivas” não terem hierarquia: você está errado nisso. Veja bem: hierarquia não significa classe. Significa, no caso dos homens, acesso às mulheres de mais alta hierarquia (geralmente as mais bonitas), respeito dos outros, liderança natural. Não significa que o alfa fosse um ditador – longe disso, sua liderança estava sempre ameaçada, e precisava ser exercida com sabedoria (ou com o uso da força, o que surtisse mais resultado).

  35. denis rb disse:

    Fellows,
    É isso, é isso que eu quero dizer. O Brasil não é o Egito e, na realidade, estamos muito a frente deles no que se refere à qualidade da democracia. Mas esse espírito – o de usar as tecnologias para tomar nosso destino em nossas mãos – é algo que precisa nos inspirar.

  36. reynaldo moreira disse:

    Nós temos sorte de conhecer muitas pessoas capazes de criar coisas só pelo prazer de criar, Denis, mas essa não é a regra em nossa sociedade. Aliás, como anda aquela hortinha na área externa do apartamento? Quem sou eu para dizer o modo como as pessoas devem desenvolver seu potencial, apenas estou me questionando sobre quanta gente hoje em dia anda criando fora dos padrões impostos por nossa sociedade (por exemplo, o padrão vigente de “empreender” no sentido de criar uma empresa, desenvolver um produto comercial ou algo similar). Você não me leu com atenção, eu qualifiquei sociedade sem classe como aquela onde não existem posições hierárquicas cristalizadas, institucionalizadas, onde o indivíduo nasce dentro de esquemas prontos de poder que nem sempre condizem com suas potencialidades inatas. Para que você entenda como essas sociedades funcionam, não aconselho, naturalmente, a leitura de Engels, pois ele manipulou dados precários de uma antropologia incipiente para propósitos ideológicos, mas Levi Strauss, que é extremamente cuidadoso, partiu de um heróico trabalho de campo e se debruçou sobre uma quantidade inimaginável de dados disponíveis, a partir da década de quarenta, para erigir suas teses. Você não vai encontrar nada em seus escritos nem de longe parecido com a idéia de “acesso às mulheres de mais alta hierarquia (geralmente as mais bonitas), respeito dos outros, liderança natural”. Ele nos ensina, com base nesses estudos exaustivos, que a proibição do incesto criou a sociedade humana ao instaurar uma nova ordem vantajosa para todos: o sistema do casamento entre primos cruzados e outras fórmulas de troca de bens, símbolos e esposas entre clãs situados num mesmo pé de igualdade econômica. É o caso dos Nambiquaras, que ele visitou, e o da maioria das tribos não andinas da América do Sul. Infelizmente, este não é o espaço ideal para o aprofundamento dessas idéias e não, não estou te chamando de ignorante, só estou dando um toque.

  37. Marcelo Azevedo disse:

    Vou insistir: usar como modelo pequenas sociedades isoladas de pessoas e pensar que isso funcionará para organizar bilhões não me parece sensato. E também acho “oi tchi tchi tchi” muito legal mas não acho que dá para comparar com a revolução tecnológica que nos trouxe à era da informática. Não vejo isso acontecendo sem competição. Na verdade, se estivéssemos só colaborando desde o início dos tempos, provavelmente estaríamos trocando porcos por galinhas entre clãs até hoje. Mais felizes? Sei lá, talvez, dizem que a ignorância é uma bênção. Mas morrendo de lepra e tuberculose aos milhões.

  38. reynaldo moreira disse:

    É bastante evidente que não poderemos organizar bilhões de pessoas numa só tribo na base da troca de porcos por galinhas, mas a divisão do campo e da cidade e o crescimento sem controle das grandes cidades que gerou a revolução tecnológica que tanto agrada ao Marcelo não é o único modelo possível para a organização de uma sociedade complexa. E também está longe ser um ideal em si, todo mundo sabe a quantidade de problemas que esse modelo megalomaníaco tem gerado. Que tal milhões de cidades-estado sem divisão entre aristocracia, camponeses e escravos, contando com muitas sofisticações da Grécia Antiga de que nos esquecemos (e tendemos a ver como um atraso) e também com todos os confortos tecnológicos que parecem um fim em si mesmo apenas a quem não consegue ver além dos limites de seu próprio tempo? Calma, é só um exemplo para fazer pensar, não uma imposição de modelos ideais. Há um repórter esperto que anda pelo mundo mostrando as aberrações que a sociedade capitalista produz. Uma vez ele esteve no Líbano e sua equipe filmou um salão de beleza especialmente dedicado às crianças da classe abastada de Beirute. No momento em que chegaram lá, havia um grupo de cinco meninas de uns sete ou oito anos vestidas em roupões cor-de-rosa, pintando as unhas, hidratando os cabelos e (sic sic sic), cuidando da pele com máscaras de produtos naturais comestíveis. Imaginem só, uma criança de sete anos cuidando da pele!!! Naturalmente, as mães assistiam a tudo extasiadas. O jornalista pergunta a uma das meninas a finalidade de tudo aquilo e ela responde: “nós precisamos ficar muito linda para irmos às compras”. Nunca vi um exemplo tão aberrante da imposição de modelos adultos à infância, o que supõe um completo desconhecimento das diferenças entre o mundo adulto e o infantil, uma cena que jamais vai ser vista entre povos atrasados que cuidam da tarefa ingrata de trocar porcos por galinhas. O ideal de beleza imposto a estas pobres meninas vai ser provavelmente o dessa bonequinha de plástico que, num passe de mágica, pode-se transformar numa cerveja e que atende pelo nome de Paris Hilton, a “Devassa”. Realmente, estamos muito avançados!!! Já sei: “você está querendo impor seu modelo do que é ser criança”. Nesse caso, admito. Criança para mim foi feita para jogar pelada em campo empoeirado e ralar o joelho, rolar no barro até falar chega, nadar em grupo no rio fazendo a maior farra, seguir a folia cantando o tcha-tcha-tcha, ouvir a narrativa de histórias assombrosas à luz das fogueiras, admirar as estrelas antes de se assentar por duas horas por dia, sob vigilância, em frente ao computador. Que tirano eu sou, não?

  39. denis rb disse:

    Que repórter é esse, reynaldo?
    Me parece bem interessante.

  40. reynaldo moreira disse:

    Vou me informar sobre o nome. Já esteve em São Paulo registrando as multidões que seguem os pastores das grandes igrejas evangélicas e os pixadores da madrugada que se arriscam escalando os prédios do centrão. O interessante é que não emite um só juizo de valor, entrevista as pessoas com a maior cara lavada, como se estivesse achando tudo aquilo uma maravilha.

  41. Marcelo Azevedo disse:

    reynaldo, nos desarmemos, eu já disse que muitas das suas críticas fazem sentido. Inclusive, quando encontrar o nome desse reporter, peço a gentileza de postar aqui no blog, também me interessei. Mas eu repito: não acho que dá para atribuir essas bizarrices ao sistema. Não sei se o tratamento às crianças era muito diferente na aristocracia medieval européia em comparação com isso que foi visto no Líbano (e que com certeza poderá ser visto aqui também).
    Mas é interessante que você tenha citado a Grécia antiga: é de lá que deriva o modelo de democracia que (bem ou mal) temos implementado hoje. Para mim, o modelo é parecidíssimo, só mudou o tamanho e a complexidade.
    Não estou dizendo que não exista nada além do capitalismo + democracia. Como eu disse, não sei o tamanho da minha própria miopia. Estou dizendo que ninguém me mostrou nada que me convença, e na minha opinião suas soluções baseadas no primitivismo não são adequadas, só isso. Mas concordo com muitas das questões que você aponta, mesmo que eu por vezes discorde de seu diagnóstico que dá o sistema capitalista como causa de todos os problemas da humanidade.

  42. denis rb disse:

    Será que o repórter é o Louis Theroux, um inglês doido que já vi fazer materias sobre cantoras mirins no oeste americano, crentes em extraterrestres e prostitutas adolescentes? Ele é ótimo…

  43. VERLÂNDIO TRINDADE DE SOUSA disse:

    AS DÍVIDAS EXTERNAS, INTERNAS E A PÚBLICA QUE E QUEM viúva Lily Monique de Carvalho Marinho finada deve ao país em que ela nasceu ou ao país que ela viveu e fez família… Lily Monique Lemb.

  44. jorji disse:

    Essa idéia de criar as coisas só pelo prazer de criar é balela, sempre existe uma motivação, e normalmente é o lucro sobre a criação, ou a vaidade pessoal entre outros fatores. “A vida é uma eterna procura”, quaisquer soluções para as questões consideradas problema no mundo, sempre traz uma consequência negativa, e assim sucessivamente, sempre o ser humano vive atrás de soluções. A evolução é um processo irreversível, e pode nos levar à extinção, ou aumentar o tempo que ainda existiremos como espécie. Acho também que dificilmente encontraremos um sistema melhor que a democracia e o capitalismo, cedo ou tarde, será adotado por todas as nações do mundo, mas em todas as épocas os conflitos humanos existirão, até mesmo para a continuação da nossa espécie.

  45. denis rb disse:

    Mas jorji,
    Prazer é uma motivação gigantesca, maior que dinheiro ou status ou sucesso. A busca do prazer nos leva a fazer coisas imensamente trabalhosas (já ouviu falar em sexo, só para dar um exemplo?)

  46. Nome Dinea Gomes Pereira disse:

    Deus queira que esta gestacao nao dure nem 9 meses, posto que e’ urgente que saiam da cena politica brasileira essa gentalha corrupta que assola o pais. O povo brasileiro deveria imitar o modelo pacifico do povo egipcio para fazer prevalecer essa mudanca tambem. Dizer NAO a volta de Jose Dirceu, Delubios e todos que participaram do Mensalao. Chega de corrupcao e de politicos inescrupulosos.
    Ja que o Brasil tem a sorte de estar tendo um crescimento economico favoravel, vamos exigir tambem que aconteca uma revolucao social, garantindo, saude, educacao, transporte dignos para o povo brasileiro, que ainda nem sabe o que e’ ter cidadania…

  47. jorji disse:

    Denis, Freud definiu que sexo é a razão da vida, a força que move o mundo, a motivação é o motivo que gera uma ação, o motivo é o sexo, em tudo, absolutamente tudo, em todas as espécies, tudo é consequência, sempre “imaginamos” mil razões para tudo que acontece no mundo, mas no real, sexo define a razão pela qual vivemos. Dinheiro e status são extremamente importantes, principalmente para angariar as fêmeas, o objetivo final. O meu grande amigo Victor Hugo tem um poema de devoção do homem à mulher, que define de forma belíssima o que somos, o mundo real descrito da forma mais bela impossível. Em relação à democracia, a democracia realmente é uma criança, criança não, um bebezão, são poucos os países democráticos, e são poucos as atuais civilizações que estão preparadas para a implantação desse regime, o que sempre te disse, melhorar a natureza humana, no dia em que o

  48. jorji disse:

    QI médio atingir 100 pontos, e que conhecimento e cultura prevalecer sobre as crenças, teremos um mundo um pouco mais equilibrado e preparado para a democracia.

  49. Marcelo Azevedo disse:

    Reynaldo, só para dar mais um argumento e apimentar a discussão sobre a teoria da “perfeição moral” das sociedades primitivas, lembre-se do caso do “monstro do maranhão”. Nada mais “camponês”. Nada mais monstruoso… Será que o capitalismo também criou isso?

  50. reynaldo moreira disse:

    Marcelo, faço questão que você me aponte em meus argumentos qualquer coisa parecida com a idéia de “perfeição moral” das sociedades primitivas. A tese do “bom selvagem” é o fruto de uma vulgarização dos escritos de Jean Jacques Rousseau e geralmente é ostentada por quem sequer leu essa vulgarização, o que já seria alguma coisa. Reveja os comentários. Critiquei Engels e citei Pierre Clastres, citei Strauss, poderia citar outros antropólogos modernos extremamente criteriosos e os citei para levantar questionamentos, fazer pensar. Gostaria muito que você fosse a essas fontes para que nossa discussão pudesse se aprofundar, numa boa! Todo o meu esforço é provar que existem enormes diferenças entre as civilizações para demonstrar que o estado de coisas atual não é eterno nem imutável e que não existe um ideal em si nos mitos modernos da “livre iniciativa”, “estado de direito” e “democracia”. Estou tentando ver esses valores de um ponto de vista mais distanciado, quem sabe para que os pensemos de modo mais profundo. Não é mistificação, não é imposição de valores, é uma proposta de pensamento fora do padrão mais pragmático, característico dos posts de Denis Errebê e desses comentários. Acho que presto um serviço a todos nós, apesar de levar porrada de todo lado. Também tenho tentado provar que não existe um valor absoluto na tecnologia. Talvez você confunda sofisticação com tecnologia e não consiga perceber que pode haver sofisticação na rusticidade. Em nenhum momento eu também tentei colocar todos os males do mundo na conta do capitalismo. Eu apontei, com base em inúmeros livros com os quais dialoguei (ler é conversar, você sabe, né?), algumas características do sistema que considero perniciosas: foco na lucratividade e não na satisfação das necessidades humanas, coisificação das relações humanas, massificação gerando estupidificação, artificialização (Paris Hilton, lembra?), desastre ambiental, etc. Mas é claro que o capitalismo criou também a meta, que vem implantando aos poucos, da universalização do ensino formal, que é a base de um possível aprofundamento da democracia formal, modelo certamente superior ao totalitarismo de esquerda ou de direita, desenvolveu a ciência a níveis inimagináveis, proporcionou o desarraigamento (a não necessidade do indivíduo se atrelar a um contexo social específico para sobreviver) que gera perda de sentido mas também abre a possibilidade da procura consciente de sentidos, algo que acho essencialmente revolucionário, etc. Apenas acho que precisaríamos aprender com as experiências do passado. Por exemplo, o comunismo primitivo coloca os homens adultos em posição de igualdade, nenhum deles tem o poder institucionalizado de mandar em outro, e nesse sentido (em algum comentário eu fiz questão de frisar: NESSE SENTIDO) acho que é um sistema mais evoluído do que o nosso. Agora é óbvio que é a riqueza social que hoje me permite a mim, que teve a sorte de nascer na classe média, ter podido aprender francês e ter tempo livre para ler La Recherche du Temps Perdu ao invés de ficar capinando roça de milho e mandioca de sol a sol para sobreviver. Mas, óia só, eu tenho um sítio onde planto e capino milho e mandioca para ver a vida brotar, gerar fartura e distribuir entre vizinhos e amigos, uma delícia, cara! Por outro lado, acho o “tcha-tcha-tcha” e todo o contexto orgânico da Folia muito mais saboroso e carregado de afetividade do que a “Dança da Tarrachinha” que aos poucos, através da grande mídia, vem tomando o terreno dessa festa comunitária e rústica requintada (ah, se você soubesse saboreá-la, meu amigo!). Os romanos escavaram nas bordas do Vesúvio saunas que aproveitavam os vapores que saíam das profundezas. Elas tinham a forma abobadada com frisos de cima abaixo. A água se acumulava no alto e descia pelos frisos. Hoje temos saunas hiper modernas, que gastam um monte de energia custosa, mas são quadradas e os pingos de água quente ficam batendo em nossa testa. Os médicos romanos do século I DC recomendavam o canto coral como meio de saúde paras as mulheres da aristocracia (Ver Foucault, História da Sexualidade II, livro maravilhoso) e estou plenamente de acordo com esses doutores nessa idéia do cantar em grupo como meio de promover saúde. Era uma medicina que se centrava na saúde e não na doença como a nossa. Mas estou me alongando demais, peço desculpas.
    Marcelo, você primeiro diz que não existem mais “isso” (camponeses), depois diz que o monstro do Maranhão é fruto do “sistema” camponês (“nada mais camponês”). Decida-se.
    E Denis, o jornalista não é o Louis Theroux, que também é ótimo. Vou buscar o nome.

  51. jorji disse:

    Perfeição moral, que bicho é isso?

  52. reynaldo moreira disse:

    Também me pergunto, Jorgi. Desconfio das duas palavras, perfeição e moral.

  53. jorji disse:

    Reynaldo, não sou dono da verdade, mas moral faz parte dos valores criados pelos humanos, bem como a dignidade, igualdade, amor, justiça, paz, Deus, etc, tudo faz parte da escala de valores para estabelecer um padrão de comportamento, a aferição desses valores são estabelecidos pelo comportamento dos indivíduos, no fundo uma bobagem necessária.

  54. reynaldo moreira disse:

    Então você sabe que bicho é esse, Jorgi? Eu muito menos sou dono da verdade, desconfio da palavra “verdade”, também.
    Aproveito para dar o nome do tal repórter: é Diego Buñel, o programa dele se chama “Zonas de Guerra” e é exibido pela National Geographic.

  55. Marcelo Azevedo disse:

    Reynaldo, obrigado pela referência do repórter, vou dar uma olhada nos programas.
    Só pra esclarecer, e “me decidir”, eu realmente não vejo um isolamento de comunidades camponesas da sociedade capitalista em que vivemos, para mim está tudo integrado, mas como você trabalha na área e defende que isso existe, faz pouco sentido eu discutir o conceito. Você é quem entende do assunto. O caso do “monstro do maranhão” apenas se encaixa no conceito de camponês que eu entendi que você colocou: o de sociedades relativamente isoladas da nossa e que partilhariam de valores diferentes. Nesse contexto, essa família viveria de acordo com os valores camponeses que você citou. Por isso trouxe esse caso: é apenas um contra-exemplo, não estou culpando o “sistema camponês” pela existência de tal brutalidade. É que eu acho que os problemas tem muito mais a ver com O SER HUMANO em si do que com a forma como ele se organiza.

  56. jorji disse:

    Reynaldo, a verdade existe, ninguem gosta dela e a teme, eu a encontrei.

  57. reynaldo moreira disse:

    Na certa em Jesus, Jorgi.
    Existem, pelos cálculos da Funai, mais de sessenta tribos isoladas na Amazônia e parece que é o único lugar do mundo em que isso acontece. Não existe, até onde sei, nem nunca existiu, uma sociedade camponesa totalmente isolada no Brasil. Os viajantes do século XIX flagraram certas famílias tão isoladas que cairam na “anomia”, total falta de valores sociais, praticando o incesto, como aconteceu como tal “monstro”. O que acontecia, em geral, é as comunidades estarem, de um modo ou de outro, ligados à sociedade envolvente e manterem relações de todo tipo com ela. Agora, esse grau de interação variou, no passado, e varia, ainda hoje, de uma para outra. Há um número incontável de livros e teses a respeito do modo como se dá essa interação e esse relativo isolamento. Não vou voltar a discutir essa balela da “natureza humana”. Fiz um esforço danado para provar como a estrutura social penetra fundo na carne humana (nosso cérebro tem campos especializados na linguagem, uma estrutura “artificial” que surgiu justamente da intensa interação social característica da espécie humana) e para provar como a estrutura social apresenta problemas para certas sociedades que não os conseguem solucionar racionalmente (lembra dos Guayaqui?). Minha sugestão é que você se aprofunde cada vez mais no estudo das ciências humanas, principalmente da antropologia. Sua noção de “natureza humana” vai se abalar profundamente, eu te garanto. Parece pedantismo, mas não sou pedante, se me conhecesse, ia ver. Até onde eu sei o tal “monstro” do Maranhão vivia sozinho com a família no meio do mato, e não em comunidade, onde certamente suas brutalidades não seriam aceitas. Existe gente perversa em todo canto, meu amigo, assim como existem aquelas de uma dignidade, senso de fraternidade, capacidade de amar inimagináveis, entre índios, camponeses mais ou menos isolados e entre nós. Mas o meio social canaliza essas características inatas de tal modo que ao final do processo mal podemos reconhecê-las. Os índios da grande planície norte americana (Apaches, Shoshones, Comanches, etc.) respeitavam muito certos “homossexuais” (o termo é nosso e só se aplica ao caso por aproximação) que costumavam ser muito bravos nas batalhas e ainda faziam a maior parte do serviço “doméstico” típico das mulheres. Muitos dos homens mais frágeis e preguiçosos costumavam casar-se com eles pois tinham ao mesmo tempo uma esposa dedicada e um corajoso protetor. Esses homens que escolhiam casar-se com eles eram desprezados, considerados fracos e aproveitadores. Hoje em dia, provavelmente esses bravos e delicados guerreiros se tornariam aquele tipo de travesti mais agressivo, tantas vezes envolvido em crimes bárbaros, desprezado por toda a sociedade, vivendo uma vida baixa e sórdida. Uma mesma natureza, dois tipos de valoração social canalizando certas características do indivíduo de modo “positivo” ou “negativo”, gerando bravura ou crime, respeito ou degradação.

  58. Marcelo Azevedo disse:

    Agora, Reynaldo, concordo em quase tudo.
    A estrutura social penetra na carne humana sim, não discordo, nunca discordei. Agora esse tipo de valor que você trouxe, exemplificando de forma clara com o caso dos índios norteamericanos, é derivado de outra faceta da organização social: a moral religiosa que criou o conceito de homossexualismo e o condena. Não vou entrar na discussão de fazer juízo de valor sobre religião. Meu ponto é que essa conta não deve ser debitada na forma como nos organizamos economicamente (capitalismo) nem politicamente (democracia).
    Agora me parece que temos mais um ponto de divergência, talvez até de natureza ideológica: não confio nas pessoas. Acho sim que todo ser humano, animal que é, pensa primeiro em si e em suas próprias necessidades. O “monstro do maranhão”, assim como Josef Fritzl, em minha opinião, não tiveram nenhuma influência da sociedade para fazer o que fizeram, posto que em diferentes graus estavam sim socializados para condenar e evitar o incesto. Penso que eles são tão egoístas que não têm nenhuma empatia com o sentimento das outras pessoas, não se importam de fazer outros sofrerem para satisfazer aos seus desejos. Acho que todos temos isso, em diferentes graus, alguns patológicos outros não, mas é isso que me faz descrer de qualquer forma de comunismo: alguém sempre vai tentar se aproveitar de alguém. Como os índios se aproveitavam dos “homossexuais”. Por isso descreio do comunismo e da falta de competição para vencer e conquistar.

    Mas prometo que vou ler mais sobre antropologia. Tenho que reconhecer que todas as ilustrações que você trouxe para a discussão, e que vieram da antropologia, são incríveis. Podemos discordar filosoficamente, mas admiro seu conhecimento.

  59. reynaldo disse:

    Recuso-me a fazer qualquer tipo de juizo moral sobre o chamado, de forma sensacionalista, de “monstro”, pois não tenho a mínima idéia do modo como foi educado, que tipo de violências sofreu, quem sabe tomou muita porrada no berço, muito antes de ter qualquer possibilidade de se defender ou mesmo minimamente entender o que estava sucedendo. Essa pressa é típica do julgamento moral, o julgador tem seus valores e quando se apresenta algum fato, que ele não conhece em profundidade, de imediato a explicação surge como que por milagre: o sujeito nasceu culpado. É a Bíblia, a idéia do pecado original, todos herdamos a culpa primordial que foi resgatada por Cristo Salvador. Agora, é claro que existem psicopatas, que podem ser criados com todo o conforto e carinho e ainda assim na idade adulta terão aquele irresistível desejo de matar. Mas são um percentual mínimo da humanidade e há condições sociais que os acolhem e estimulam, como a participação no exército americano, por exemplo, que os vai recrutar nas prisões para seus fins civilizatórios. Nas condições do comunismo primitivo, quando não havia formas de poder institucionalizado, situando certos indivíduos desde o nascimento acima de outros, e com a faculdade herdada de se impor sobre muitos outros só porque é o Rei ou Presidente do Partido. Entre os Kuikuro e os kalapalo, há aqueles que querem se aproveitar de alguém, mas simplesmente não podem, pois todos são iguais. Se tentar, vai ser ridicularizado pelo que tentou dominar e por todos os outros. Duvido que tente. Agora uma palavra sobre essa “falta de competição para vencer e conquistar”. Ah! a sedução das idéias prontas! Entendo por exemplo que a competição entre os regimes capitalista americano e “comunista” russo durante a guerra fria estimulou a corrida tecnológica que levou o homem à lua. Mas isso foi feito por políticos, que são como moscas que giram em torno da merdinha do poder. Agora quem pôs o homem no espaço mesmo foram milhares de técnicos, engenheiros e peões que trabalharam em colaboração, cada qual com seus potenciais intelectuais e físicos sendo complementados pelos demais. Agora imagine, Marcelo, se você quisesse fazer sozinho o telescópio Hubble só para mostrar que era o fodão. Além de reinventar todos os sistemas elétricos e eletrônicos desenvolvidos por gerações, você teria que desenhar as plantas, construir as máquinas que produziram os componentes, polir por décadas os enormes espelhos, lançar a coisa aos céus conforme cálculos matemáticos super precisos, que dependeram dos mais básicos, desenvolvidos desde a Renascença, etc., etc. Seu desejo de competir teria te lançado a uma aventura desafiadora, mas na prática mesmo você não teria levantado uma pipa. Te proponho um desafio: tente fazer sem orientação o mais básico pote de cerâmica, ache o barro apropriado, beneficie essa argila, erga o pote e faça a queima no tempo e na temperatura certa. É simples, coisa que qualquer caboclo analfabeto sabe fazer. Tente, só para me provar que você pode. Se conseguir eu digo: “parabéns, campeão, você venceu!”

  60. Marcelo Azevedo disse:

    Você parece ter uma visão distorcida do conceito de competição.
    Quem levou o homem à lua foram, com certeza, os técnicos trabalhando em equipe, mas sem a competição gerada pela guerra fria dificilmente isso teria ocorrido em 1969, talvez sequer tivéssemos chegado até lá. Era uma competição entre duas equipes! Esse é meu ponto. (Não que a ida à Lua tenha servido para alguma coisa prática…) Praticamente todo progresso tecnológico vem da necessidade de se resolver um problema. A competição cria muito mais “problemas” a serem resolvidos, na medida em que você tem sempre que buscar ser mais eficiente e lucrativo que os seus concorrentes, coisa que não aconteceria se ela não existisse. Não é uma “idéia pronta”, pensei e penso bastante sobre isso, você acredita que só porque você não está com a corrente majoritária de pensamento é o único capaz de pensar?

    Com relação aos pedófilos, repito: o objetivo não é fazer juízo de valor sobre nada disso que você colocou. O objetivo é defender a tese de que não é o sistema que os produz, pois há contra exemplos (pedófilo camponês e pedófilo totalmente inserido no contexto social). Talvez precisemos de análises muito mais aprofundadas, fora do contexto da antropologia mas também na psicologia, psiquiatria, etc para especularmos as razões da existência desse fenômeno em algumas sociedades mas inexistência em outras. Colocar na conta do sistema é, no mínimo, precipitado.

    Com relação à má-fé, como você mesmo disse, existe gente perversa em todo canto, e nenhum sistema será capaz de mudar isso (nem o dos Kuikuro). Eu prefiro um sistema que leve isso em conta, em vez de um sistema cujo pressuposto é a boa-fé comunitária. Não é “cada um por si”, nada disso. Mas “cada um recebendo o que merece”. Comunismo é dividir tudo por igual. Eu não quero dividir com quem pode trabalhar tanto quanto eu mas não quer!!!

  61. reynaldo moreira disse:

    O que eu disse é que há uma minoria de personalidades dominadoras em qualquer sistema e que, dependendo do sistema, elas podem ser frustradas em seu ímpeto dominador (como entre os Kuikuro), ou estimuladas, como nas estruturas hierarquizadas do tipo clero ou exército profissionais. Sua pressa em julgar o tal “monstro” sem ter a mínima idéia do modo como ele foi educado, desde a mais tenra idade, é que me fez suspeitar de que se trata de um juizo moral, sempre muito fácil de ser emitido, afinal, é só ver um determinado ato do sujeito e proclamar: “nasceu com a inteira alma culpada e passível de punição”. Acho que deixei isso bem claro, não? Os manda-chuvas que ficavam competindo nos dois lados da guerra fria podem até ter dado o estímulo para mandar o homem à lua, mas a pura e simples competição entre esses bostinhas do poder teria sido absolutamente ineficiente para a grande empreitada científica. A colocação em prática do projeto dependeu inteiramente de gerações e gerações de pensadores e operários que trabalharam em cooperação, cada um contando com a habilidade do outro e muito mais preocupados em realizar a contento sua tarefa do que realizá-la antes ou melhor do que o outro. Um verdadeiro cientista é tanto mais humilde quanto mais sabe de verdade e está muito pouco interessado nessa picuinha infantil de quem é o mais rápido, o mais forte, o mais veloz, o mais talentoso, o mais mais mais. Putz, eu acho isso um saco! Poderia recomendar uma série de livros de autores marxistas dos séculos XIX, XX e XXI que tratam desta questão, mas não creio que você vá querer se envolver com essas correntes de pensamento retrógradas e minoritárias, não é verdade? Concordo que não valeu muito a pena ir à Lua. Eu acho mais relevante para a humanidade um único poema de A Rosa do Povo, de Drummond, do que todo o programa espacial da Nasa. E então, aceitou meu desafio de reinventar a cerâmica rústica?

  62. Marcelo Azevedo disse:

    Na verdade não vou tentar, porque não vejo o ponto. Não tenho a veia artística, não vou querer competir nisso com caboclos analfabetos porém artistas. Minha coordenação motora é deprimente.
    Mas vamos deixar claro: não disse que correntes de pensamento minoritárias são estúpidas, você é que insinuou que eu compro idéias prontas só porque elas são majoritárias.
    Agora, discordo totalmente de que um verdadeiro cientista é mais humilde quanto mais sabe de verdade, e que pouco se interessa em competir. Senão o Premio Nobel não faria sentido. Mas volto a dizer: colaboração e competição não são antíteses, você pode ter competição entre times colaborativos como numa partida de futebol. E a grande maioria das pessoas não acha isso um saco.

  63. mario braga disse:

    OS POLITICOS PROFISSIONAIS MATARAM A DEMOCRACIA
    CONHEÇA OS ARGUMENTOS DAQUELES QUE DEFENDEM A INELEGIBILIDADE AUTOMATICA PARA TODOS OS CARGOS ELETIVOS.
    http://WWW.PRVP.ORG.BR

  64. reynaldo moreira disse:

    Pouco me importa se uma idéia é minoritária ou não, eu vou colhendo informações as mais diversas, e não só em livros, vou comparando com o que vejo no mundo e me digo, isto me parece razoável ou não, no todo ou em parte. Acho competir um saco, sim, tenho tanto nojo de baralho, por exemplo, que não posso nem ver um grupo de pessoas em volta de uma mesa horas a fio que me dá calafrios. Sou mineiro, já torci para o Cruzeiro, já fui muitas vezes ao Mineirão até lá pelos meus vinte e poucos anos (tenho 45), depois fui deixando isso para trás, porque fui crescendo sob a influência de muita gente boa e fui percebendo que era um atraso de vida essa merdinha. Hoje a competição não faz o menor sentido para mim, ponho isso na conta de um certo infantilismo. Tem cura, viu? Mas se ela te estimula, te leva para frente, como a alguns a cocaína e a outros a fé em Jesus, quem sou eu para dizer: “largue essa droga, meu fio!” Vivemos num país democrático, não é esse o chavão? Mas acho que já basta, camarada comentarista, estamos usurpando um espaço que não nos pertence. Até a próxima.

  65. denis rb disse:

    reynaldo
    Nos pertence sim, uai, o espaço é nosso, e serve justamente para isso.
    Sei que competição tem cura, mas não sei se quero me curar. Afinal, é um dos grandes prazeres da minha vida, e não acho que faça mal a ninguém. Gosto de colaboração também, assim como gosto de contemplação e de reflexão, e de descanso. Mas, gosto, acima de tudo, de variedade. Não acho que nenhum desses 5 estados seja por natureza “superior” aos outros. Acho que uma vida boa tem momentos de cada um deles – o pique de bicicleta para chegar à frente na corrida, a sensação de dever cumprido e de coleguismo depois de um esforço coletivo para terminar uma tarefa difícil, o bom livro terminado, o ranger da rede com o corpo cansado se inebriando com um enlatado americano. Como diz o outro, a vida é boa porque é variada.

  66. denis rb disse:

    Aliás,
    Vocês viram o link que o mario braga deixou aí embaixo? É um movimento pela inegibilidade automática de todos os políticos. Vixe, o pessoal está se enfezando. Não concordo que precise chegar a tanto. Mas uma coisa tenho que reconhecer: a classe política brasileira está dando seguidos motivos para a raiva popular.

  67. reynaldo moreira disse:

    Tem razão, Denis. Para algumas questões, sou meio radical.

  68. “Um país não pode ser ao mesmo tempo ignorânte e livre”
    É o nosso caso, não sabemos votar, não lemos então não vivemos em uma democracia plena.

  69. A inelegibilidade automatica nao nasceu para punir os maus representantes. Os defensores dessa ideia acreditam que a renovacao constante de todos os representantes no legislativo e executivo serah salutar ao processo democratico. Este pensamento nao pode ser confundido com radicalizacao. Trata-se apenas de uma discussao: Seria melhor ( ou pior para os eleitores caso tivessemos sempre pessoas diferentes como nossos representantes. Soh isso.

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