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Arquitetura

Adorei a discussão sobre o prédio Libélula, vou tentar postar mais coisas do tipo. O legal de discutir conceitos radicais, transformadores, é que a discussão muda de patamar. Em vez de ficarmos presos às picuinhas superficiais e transitórias – o PT, o PSDB, o socialismo, o capitalismo, o mercado, o governo –, falamos do que importa: das pessoas, das cidades, dos bairros, da vida.

Teve o Jay Jay, engenheiro civil responsável por construir infraestrutura na Nigéria, lembrando que prédios não são grátis, não brotam do chão. Eles consomem recursos que precisam ser extraídos do chão. Portanto, consomem a Terra.

Teve o email que recebi do Sten Johnsson, arquiteto do Rio, propondo uma solução radical para isso: uma casa-organismo. Ou, nas palavras dele, “uma simples semente (como de uma árvore ou um pólipo de coral), porém com um DNA projetado para crescer e gerar algo similar a uma árvore ou uma estrutura de corais, configurada com espaços habitáveis, circulações e tudo que uma edificação tem em conformidade com um programa arquitetônico pré-concebido”.

Teve uma discussão sobre prédios simbólicos, sobre a necessidade de ideias loucas e sobre pena de morte para arquitetos
🙂

Teve uma outra mensagem que recebi, de um leitor chamado Reynaldo, que nunca comenta um post, apenas escreve emails (ele diz que, por razões ideológicas, não quer se vincular de maneira nenhuma à Veja). Reynaldo disse que imagina este prédio frequentado por engravatados. E que prefere fazendas de roça, de campo, com mato, com bichos, com cachoeiras.

Da minha parte, acho que talvez soluções radicais como o Libélula sejam um jeito de permitir que a natureza possa continuar natureza. Sou ciclista. Já pedalei em cidades, já pedalei em bosques e já pedalei entre plantações industriais. Posso dizer: bosques são os lugares mais agradáveis que existem para se pedalar. Cidades chegam em segundo. Plantações industriais estão em último.

Olhe para a foto aérea de uma cidade. Você vai ver prédios de bancos, de companhias aéreas, de agências de publicidade, de governos. Mas não vai ver nenhum prédio que produza comida (apenas os que processam comida). Será que é justo que as cidades continuem “terceirizando” a indústria para o campo, via agroindústria? Ou será que cada cidade deveria cuidar de sua própria comida, deixando ao campo a liberdade de ser campo (e produzir, quando muito, produtos de baixo impacto e alto valor).

Olhe para uma foto de satélite. Procure por uma cidade grande. É uma mancha preta, morta, mais ou menos como um fungo numa fruta ou um câncer num animal. Será que não é hora de esverdearmos essa mancha preta, antes que o resto do globo fique amarelo?