Responda depressa: cite um exemplo de algo bom que alguém do governo fez recentemente.
Difícil, né? Difícil lembrar de uma só história.
Tente então lembrar o nome de um servidor público que seja honesto, que tenha ideias inteligentes e inovadoras e que esteja empenhado em melhorar o país.
Lembra algum? Um nome só?
Aposto que não.
Talvez isso queira dizer que, no Brasil, todos os funcionários públicos e políticos são imbecis completos e corruptos em potencial. Mas, honestamente, eu não acho que seja isso (até porque, na posição de jornalista, já conheci dezenas e dezenas de funcionários públicos que me pareceram bastante inteligentes, honestos e idealistas). Eu acho que isso revela uma doença da nossa sociedade.
Nós, brasileiros, gostamos mesmo é de nos achar espertões, malandrões. Então a gente nunca elogia ninguém, nunca aponta um bom exemplo – e se houver um defeito que não estou vendo e eu passar por ingênuo depois? No final, isso cria um desincentivo para gente talentosa se arriscar no serviço público. Para quê? Para virar saco de pancadas?
Na minha carreira de executivo, eu aprendi uma ou duas coisas sobre administração de recursos humanos. Aprendi que, se queremos ter uma equipe motivada, é importante avaliar o desempenho e conversar sempre sobre as falhas de cada um, com foco em corrigi-las. Mas, acima de tudo, é fundamental celebrar os acertos, elogiá-los publicamente, criar um ambiente em que todos os funcionários saibam o que se espera deles e sintam-se motivados a ousar, a inovar, a tentar algo novo.
Pois fazemos o contrário disso na maneira como avaliamos nossos servidores públicos. Quando eles erram, nós descascamos os caras, caímos matando, fazemos piada, fazemos os sujeitos se arrependerem de ter tentado. Nada de discutir o que poderia ter sido melhor – muito mais fácil e divertido é ridicularizar o que saiu errado. Quando eles acertam, na melhor das hipóteses, nós ignoramos. Na pior das hipóteses, nós damos um sorrisinho cínico e fazemos uma insinuação maldosa (e sem provas) sobre as reais motivações deles. “Devem estar levando algum por fora…”
Não estou aqui sugerindo que todos nós banquemos os polianas. É óbvio que espírito público é produto meio raro aqui na terrinha, não nego. Mas vivemos um período em que precisamos, mais do que qualquer outra coisa, de inovação. O mundo está mudando de maneira quase cataclísmica, e isso significa que precisaremos reinventar nosso sistema político, nossos modelos de produção, de consumo, de trabalho, nossos estados, nossas escolas, nossa economia, nossas leis. Esse trabalho de reinventar coisas já é difícil normalmente, e torna-se quase impossível num ambiente conservador, em que as pessoas têm medo de tentar, de ousar, de experimentar.
Precisamos aprender a celebrar os bons exemplos. Não porque precisemos de heróis, mas porque precisamos de gente motivada tentando fazer o melhor e acreditando na importância do seu trabalho.
Ser cínico é fácil prá caramba. Rir dos outros não oferece nenhum risco (a não ser a de um eventual – e merecido – tapa na cara). Mas elogiar exige coragem.
Foto: carderel (CC)