Deixe eu tentar adivinhar como é que funciona o lugar onde você trabalha. Tem um chefão bem pago numa sala bem espaçosa, que dá ordens para alguns chefinhos. Não tem? Aí cada um dos chefinhos dá ordens para um certo número de pessoas e assim por diante, até chegar à peãozada lá embaixo, que faz o trabalho.
Pegue o organograma de qualquer grande estrutura – seja ela uma empresa, um governo ou uma ONG – e o mais provável é que ele se pareça com isso:
Tem uma bolinha no centro de tudo (o chefão), ligada aos chefinhos, que se ligam à peãozada.
Esse modelo de trabalho tem seus méritos. A estrutura hierárquica garante que todo mundo esteja engajado num projeto comum. Há controle sobre todos.
Mas ele tem suas desvantagens também. O pessoal longe do centro não tem autonomia nenhuma para experimentar. O trabalho deles é observar o problema, mandar as informações para o centro, esperar a decisão voltar, e depois obedecer as ordens. Isso pode ser uma baita desvantagem em tempos de mudanças de paradigma, como os atuais, quando nada é mais importante do que ter flexibilidade para inovar.
Agora, imagine que a gente vivesse num modelo que fosse mais assim:
As bolinhas são exatamente as mesmas, mas mudou o jeito como elas se conectam. Cada uma está ligada a um monte de outras. Não tem centro, todo mundo está em contato com os problemas e tem liberdade para decidir como lidar com eles.
Isso é uma rede. Cada indivíduo aí tem suas atribuições, trabalha do seu jeito, tem seus objetivos. Cada um é o chefe do seu pedacinho. O resultado são indivíduos mais engajados, mais motivados, mais criativos. Mil cabeças, em vez de uma cabeça só com 2.000 braços.
Por milênios, esse tipo de organização era uma impossibilidade prática. Era simplesmente impossível alinhar um monte de interesses de um jeito que essa rede não virasse um caos, com cada um trabalhando para o seu próprio bem. Mas, nos últimos anos, graças às novas tecnologias de comunicação, começaram a surgir pelo mundo experiências animadoras, que dão a esperança de que logo logo vai ser possível produzir coisas grandiosas sem hierarquias rígidas.
No mundo dos negócios, o exemplo mais impressionante é o Google, claro. O Google é uma empresa gigantesca, uma corporação. Mas é também um lugar onde todo mundo é incentivado a ter seus “projetos pessoais”, que na verdade não são exatamente pessoais, são do Google. Qualquer bolinha na rede tem liberdade para inventar algo, mesmo que o chefão nem saiba do que se trata. Cada funcionário pode se relacionar diretamente com o público, sem ter que passar pela hierarquia inteira antes. Isso dá a todo mundo liberdade para experimentar e aprender com seus erros e acertos. Resultado: em poucos anos, uma empresinha de garagem virou uma das maiores do mundo.
Rede é também a forma de (des)organização da internet. Ninguém manda aqui, não há uma hierarquia. Ainda assim, bilhões de coisas são produzidas – vídeos, fotos, softwares, enciclopédias, num ritmo assustadoramente rápido, um milhão de experimentações por segundo. O mundo está mudando rápido e tenho certeza de que vão ser redes, e não estruturas hierárquicas, que vão liderar essa mudança.
Tem muita gente que adora ficar discutindo se é melhor ser de direita ou de esquerda. A direita quer menos governo e mais mercado, a esquerda quer o contrário. Para mim, essa discussão é totalmente secundária. Importante não é escolher entre empresa privada e governo – é entender como eles se organizam. Hoje, no Brasil, tanto os governos quanto as empresas são imensamente hierarquizados e autoritários. É o chefe que manda, ninguém experimenta, ninguém inova. Tanto os funcionários públicos quanto os privados estão esmagados debaixo de uma pesada estrutura hierárquica. Morre-se de medo de perder o controle.
Enquanto não aprendermos a formar redes mais flexíveis, seremos o país da burocracia, do medo de arriscar, do autoritarismo, da falta de inovação. Tanto no setor público quanto no privado.