Águas-vivas gigantescas, do tamanho de geladeiras, infestaram a costa do Japão. Eram tantas, e tão imensas, que foi preciso fechar temporariamente algumas usinas nucleares que abastecem Tóquio de eletricidade. Navios, usinas de dessalinização e mineradoras também já tiveram que parar suas operações para limpar suas entradas de água, entupidas de águas-vivas. Na Irlanda do Norte, em novembro de 2007, uma invasão de pequenas águas-vivas deixou a água vermelha. Ao longo da costa norte-irlandesa, populações inteiras de salmão morreram sufocadas.
Muito se fala do quanto as mudanças climáticas prejudicam espécies mundo afora. Mas nem todo mundo é prejudicado pelas temperaturas mais altas e pelo clima mais imprevisível e violento. Algumas espécies se dão muito bem. Mosquitos, por exemplo. Baratas adoram. E, ao que tudo indica, águas-vivas também.
É o que eu descobri numa reportagem assustadora publicada na revista Earth Island Journal, cuja sede fui visitar na semana passada em Berkeley, Califórnia. A matéria diz que, na verdade, ninguém tem certeza de que águas-vivas estão mesmo proliferando – basicamente porque não tem jeito de contar esses bichos quase invisíveis que passam parte de suas vidas escondidos no fundo do mar na forma de pólipo. Suas populações variam demais naturalmente. Mas todo mundo que acompanha-os de perto concorda que as infestações catastróficas, como as descritas acima, estão ficando cada vez mais frequentes.
Não faltam razões para isso:
- Elas gostam de água quente. Tradicionalmente proliferam em águas tropicais. E o aquecimento global está tropicalizando o mundo.
- Elas competem contra os peixes por plâncton. Como estamos acabando com os peixes, elas fazem a festa.
- O homem criou várias “zonas mortas” no mar. São bocas de rio, que desembocam um monte de poluição. Essa poluição faz proliferarem algas, que tapam a luz do sol e matam o fitoplâncton. Sem fitoplâncton, os peixes morrem ou mudam. Essas “zonas mortas” são dominadas por águas-vivas, que prosperam sem competição.
Enfim, o clima é um sistema complexo. Quando se altera um sistema complexo, como a humanidade está fazendo agora, há um monte de consequências, algumas delas totalmente imprevisíveis. Parece que a proliferação de águas-vivas vai ser uma delas, para azar dos peixes e dos banhistas.
Enquanto isso, um chef sino-britânico chamado Joe Lai desenvolve receitas com águas-vivas. Segundo ele, elas são altamente protéicas, mas quase não têm gordura. Enquanto não descobrirmos um jeito de eliminarmos a causa da praga das águas-vivas – o efeito estufa – só nos restará aprender a comê-las.
Foto: tirei no aquário de Monterey, Califórnia