Anotações de um escriba

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Passei os últimos dias num encontro de jornalistas na Universidade Stanford. Era uma reunião dos ex-bolsistas de um programa do qual eu participei no ano passado – tinha lá centenas de veteranos do programa, o mais velho está perto de completar 90 anos, eu era um dos mais novos. A sensação que eu tinha era a de estar numa convenção de escribas logo após a invenção de Guttenberg. A sensação de que minha profissão está morrendo. Meus colegas, principlamente os americanos, estão perdendo o emprego a rodo, vítimas da concorrência da internet. A ansiedade batia no teto. Ninguém sabe como será o futuro.

Esta foto aí acima é da excelente palestra do Leonard Downie Jr, vice-presidente honorário do Washington Post. Apesar da aparência jovem, Len Downie tem história. No começo da carreira, ele foi o editor da mais famosa série de reportagens da história americana, o escândalo do Watergate, que terminou com a renúncia do presidente Nixon. Downie não teve dó da audiência. Ele disse abertamente que talvez o jornalismo volte a ser aquilo que sempre foi ao longo da história, até os anos 60: uma profissão não muito bem paga, que as pessoas fazem mais por paixão do que por dinheiro durante a juventude, e que depois abandonam para fazer outras coisas. Mais uma paixão do que um negócio.

Mas nem tudo na palestra foi pessimismo. Downie está empolgadíssimo com as experimentações jornalísticas que estão acontecendo país afora: websites investigativos especializados, projetos apoiados por universidades, gente nova, talentosa, ética, inventando coisas e fazendo acontecer. Os jornais estão fechando, mas o jornalismo de qualidade não está acabando, pelo contrário. Tem muita gente boa fazendo coisas interessantes. E nunca se consumiu tantas notícias. O que está difícil é transformar isso em um grande negócio: tudo é pequeno, fragmentado, experimental.

São tempos aterrorizantes para a minha profissão. São também tempos fascinantes: de novidades, de inovação, de possibilidades. De gente jovem se reunindo para tomar o espaço dos gigantes. Muita gente está sofrendo, inclusive meus amigos americanos. Sempre há sofrimento quando há mudanças. Mas vai ser interessante ver no que isso vai dar.

Se pensarmos bem, a ideia de derrubar árvores para imprimir maços de folhas que são entregues nas casas das pessoas com notícias de economia mesmo que o sujeito só queira saber de futebol não faz mesmo muito sentido. A questão é: como arrumar um substituto para isso que não enfraqueça a democracia?

23 comentários
  1. Nayana disse:

    Olá,
    enviei um email com elogios. Quiser ficar feliz é só abrir. rs
    Parabéns pelo seu trabalho.

  2. Rogério O. Soares disse:

    A volta do caro Diogo Mainardi para VEJA com o rabo entre as pernas é cômica e constrangedora 😳 , ainda bem que vc. voltou para contrabalançar! Ontem nem constava sua imagem nas colunas, obrigado por voltar com seu blog wireless.

    Abraço aos leitores!

    Diogo se vc. fosse um Senador brasileiro ao invés de aprimorar seu conhecimento em Stanford, estaria na Disney com uma Mônica Velozo da vida.

  3. Rogério O. Soares disse:

    Errata! referência no trecho final era para o Denis!

  4. Sergio disse:

    Denis, acho esse tema muito interessante não só para jornalistas, mas também para a sociedade como um todo, afinal a imprensa bem ou mal exerce um papel de contrapeso de poderes. A perda da função investigativa, que já vinha sendo enfraquecida, é sem dúvida motivo de preocupação. Em relação à profissão em si, tem um post interessante do Scott Adams, é um pouco limitado na medida em que trata apenas de uma parte do tema, mas é interessante pela tentativa de visualizar novas saídas por meio de novas funções: http://dilbert.com/blog/entry/how_i_saved_newspapers/

    Abraços!

  5. Biba disse:

    Rogerio, aqui é a mãe do Denis. Pior é o caro Diogo Mainardi voltar, falando mal do Chico. Sem comentários! Ele enlouqueceu?
    Filho, belo post, saudades da mamma.

  6. Rômulo disse:

    Acho que o jornalismo, assim como quase todas as atividades humanas, tem de saber se adaptar. Se o jornalista perde espaço para a internet, então está na hora de saber usar a internet, oras.

  7. Rogério O. Soares disse:

    Senhora Biba estou com vc e não abro!
    Rômulo
    Por acaso vc participou do Blog Eleições americanas do Nuno Gouveia? Meu nick lá era Roger Maverick.
    Denis desculpa a mensagem ñ relacionada, mas precisava perguntar ao Rômulo.

    Abraço!

  8. Amor pela Democracia disse:

    Qual e o problem em criticar o trabalho do Chico Buarque? A democracia e feita de diferenca de opiniao e respeito a opiniao do outro mesmo que a gente nao concorde. Se Jesus Cristo, sendo filho de Deus, foi criticado, que dira um ser humano comum!!

  9. Rogério O. Soares disse:

    Ai ai ai! Sai do blog do Denis ô Diogo! hehe

  10. Maurício Bittencourt disse:

    Oi Denis, eu compartilho a opinião de que o Jornalismo voltará aos tempos pré-década de 60. Aqui no Brasil isso foi reforçado com a queda do diploma. Será ótimo para a vida acadêmica, pois os cursos picaretas de Jornalismo vão cair e quem procura “apenas um canudo” vai pra outras áreas. Ficarão aqueles, como vc e eu, apaixonados por divulgar fatos interessantes. Meu receio são os patrões das empresas de comunicação. O nível é tenebroso. Logo haverá demissões para que os salários de jornalistas fiquem de acordo com uma carreira “técnica”. Sim, pois tempos ruins esperam os meios de comunicação de massa, conforme vc constata em Stanford. Parabéns pelo trabalho e um abraço!

  11. Felipe Maddu disse:

    Que que têm a ver Chico com o post? Volta pro blog do Reinaldito Mainardi!! Vejo uma evolução e/ou ruptura do antigo modelo. Deus queira que o mercado para os jornalistas se desenvolva, pois se pensarmos há muitos anos se fala nas era das comunicações e bláblá e acho que o jornalismo está passando uma fase, o que vai vir a seguir é uma incógnita. Isso me preocupa um pouco, ainda mais pra mim que só estarei formado em 2011. Boa estadia californiana. http://femaddu.blogspot.com/

  12. Jay Jay, Nigeria disse:

    Oi Denis,
    De fato, imprimir jornal demanda o abate de árvores (que podem ser replantadas) e nao só, exige um tratamento químico que só quem já passou perto de uma fábrica de celulose pode imaginar a agressao à natureza que esse tratamento químico provoca, mas cá entre nós, nao vai ser por causa da imprensa impressa que as florestas vao acabar e o mundo ficará poluido.
    A internet tem a enorme vantagem de levar a informaçao muito mais além do que a imprensa impressa é capaz, veja só, da Nigéria eu posso interagir com as informaçoes de uma maneira que nao seria possível sem a internet.
    Como diz o Rômulo, o jornalismo tem que se adaptar à era da internet e isso já está acontecendo.
    Tudo isso é bonito, mas convenhamos, nada mais gostoso que acordar cedinho, ir até a banca de jornal mais próxima, ter dois dedos de prosa com o jornaleiro, voltar para casa e ler as notícias enquanto se toma uma xícara de café, nao é verdade ? ou estou sendo muito idílico ?
    Valeu, sucesso na sua estadia na Califórnia.
    Abraços a todos.

  13. #42 disse:

    Nossa o Jay Jay falou tudo! Novamente! Tanto quanto a parte da falta de apelo ecológico dos jornais, tanto quanto a parte de bater um papo com o jornaleiro… Mas quanto a essa parte d bater “dois dedos d prosa”… uma parte pelo menos pode ser curada afinal quando vc compra um jornal ele não vem recheado d comentários interessantes (e outros nem tanto) d gente comum! E isso é incrível! A alguns anos atrás para vc conversar com alguém sobre uma coluna, ou reportagem vc teria q procurar outras pessoas q leram a mesma coisa (claro q isso numa epoca em que colunas e reportagens eram coisas q só se viam em jornais e revistas) e hj não!…

  14. #42 disse:

    …Eh soh vc ler a sessão d comentários e voilá! Um enriquecimento tremendo para a informação lida! Mas claro q poder bater bater um papo com outra pessoa cara a cara eh muito melhor! Denis tomara que exista muitos jornalistas como vc q escrevem com paixão e não pq é o q o canudinho manda! E tomara q os grandes executivos valorizem esses profissionais q como vc escrevem por paixão e com habilidade e não diminuam os seus salários… pq o dia em q jornalistas talentosos como vc mudarem d profissão pra não morrer d fome será um dia triste!

  15. Rogério O. Soares disse:

    Realmente esse Jay Jay merece uma coluna na Veja.
    Denis você poderia sugerir aos editores um correspondente Nigeriano para incrementar este maravilhoso espaço!

    Abraço aos leitores

  16. PARAXABA disse:

    oi denis
    coicidencia.aqui no norte do pais,tem milhares de pais de familias passando pelo mesmo processo.no caso dos jornalistas ha muitas saidas.mas vai demorar,pra que isso ocorra.da tempo para os velhos se aposetaren.os novos,se readaptaren.e os dos meios como vc.pode ficar tranquilo.vai levar ainda muito tempo ate que o ultimo apague a lampada.AINDA TEM UM LADO MUITO BOM.TUDO E PEQUENO,FRAGMENTADO.EXPERIMENTAL.VEJA AI A OPORTUNIDADE DE INVERSAO.com enorme vantagems para os pequenos.VEREMOS PEQUENOS ENGOLINDO GIGANTES.a estrutura e o capital.dara lugar ao intelecto,percepçao e discernimento.FUTURO ANIMADOR NE?

  17. Felipe disse:

    Penso que se misturou o incipiente desespero da extinção ou afunilamento do jornalismo, com a questão ambiental. É sabida a degradação ambiental causada no processo de celulose, como passívos do solo, emissão de gases, adequação de espaço, águas suberrâneas e superficiais (essas mais que aquelas em geral). E também é de conhecimento de todos o impacto que vai gerar a produção em grande escala de aparelhos com telas de plasma e cheios de plástico e borracha (e alguns metais pesados), oriundo do fim da transformação da celulose. Mas e o peso disso? qual impacto é maior? e o “nanorisco” advindo dos metais pesados (nanolixo espacial?!?)???
    E a democracia? que tem haver com isso?

  18. Pedro disse:

    Ao contrario do que disse o Jay Jay muitas empresas estao trocando o tratamento a base de cloro por ozonio que, no final do processo, e convertido em oxigenio.

    Gosto do jornalismo da internet. Melhor que sujar os dedos de manha lendo o jornal durante o cafe e ler blogs como o do Denis no laptop.

    Realmente, nao ha modelos de grandes negocios no jornalismo da internet ainda. Eles virao, com certeza. Outro problema e que muita gente usa o jornalismo como “trampolim” na carreira. Ser colunista do jornal A, B ou C, independente do jornal, ajuda a melhorar sua visibilidade profissional. E da-lhe opiniao sobre qq assunto, como faz o Diogo Mainardi, um especialista em falar bobagens.

  19. paraxaba disse:

    continuando.quando eu era criança.via as fotos dos herois brasileiros,que migrava para o norte do pais.OS INTEGRADORES.povo valoroso.DISPOSTOS a todo tipo de privaçoes,para ajudar os que la estavam desenvolver o norte do pais.COM O TOTAL APOIO DO GOVERNO E DA SOCIEDADE BRASILEIRA.vieram as mudanças,O NOVO SISTEMA.penaliza os medios e EXCLUI OS PEQUENOS.ai gera muito desemprego.e paralisa a principal atividade.tempos dificeis e MUITA GENTE SEM RUMO.O PEQUENO.nao tendo condiçoes de se ADEQUAR.por queatoes de sobrevivencia,e enpurrado para a ilegalidade.ai VIRAMOS LADROES,BANDIDOS ETC.sacou Denis,o efeito da nossa mudança e inversa,AI OS VALOROSOS.INTEGRADORES…………PRA ONDE? catar coquin

  20. Jay Jay, Nigeria disse:

    Paraxaba,
    Puxa !!! Mesmo de porre você consegue ligar o computador !!!
    Bom, não é para se admirar, mesmo de porre um conterrâneo teu conseguiu se eleger presidente do Brasil e agora quem está de ressaca é o povo brasileiro.
    Vai catar coquin noutras bandas.

  21. jorji disse:

    A informação e o conhecimento jamais acabarão,´é um dos nossos alimentos, não fico um dia sequer sem ler jornais e espiar a internet.

  22. Rogério O. Soares disse:

    Alguém pode dizer onde está o proprietário do Blog????????
    Ele ficou rico?
    Tá hospedado no castelo da rainha?
    Tá explorando o subterrâneo de algum iceberg?

  23. Lucio Flausino disse:

    A grande mudança que vejo ao ler o texto do Dênis é a mudança que vejo em outros setores e há um certo tempo.

    Fico cada vez mais assombrado, quando leio textos que comentam de tempos de grande ruptura, de quebra de paradigmas. O tema desse texto é mais do que simplesmente a perspectiva para jornalistas, mas reflexo de um mundo que nos aguarda, mas que não sabemos direito o que é. Que pardoxalmente é um futuro nebuloso, mas com muito otimismo [como costumo ver os textos do Dênis desde o “Projeto Secreto”], pois significa um tempo que virá, que trará mais novidade, que abrirá mais espaço para a criatividade e nos dará uma nova – e melhor medida para a nossa vida de planeta Terra.

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